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Previous issue date: 2012 === A partir de uma compreensão sociointeracionista de desenvolvimento, este trabalho destaca a
criança como construtora ativa de significações sobre objetos sociais diversos; sua
participação na sociedade a instiga a reproduzir interpretativamente informações do mundo
adulto de forma a atender aos interesses próprios de sua idade. Explorar significações infantis
sobre família, por exemplo, pode revelar como crianças apreendem esse objeto e salientar os
aspectos de maior visibilidade, segundo suas perspectivas, ainda que a família implique um
processo de contínuas (trans)formações conforme valores e normas culturais. Em se tratando
da criança em acolhimento institucional, torna-se sobressalente colocá-la na posição de sujeito
ativo e detentor de direitos na vivência de institucionalização, escutando-a em suas próprias
percepções, especialmente em um contexto sociocultural que defende a preservação do direito
infanto-juvenil à convivência familiar e comunitária. É então que o presente estudo buscou
investigar processos de significação sobre família em crianças de 3 a 6 anos acolhidas
institucionalmente na cidade do Recife. Contou-se com 24 participantes, que estavam há pelo
menos um mês acolhidos e cujas histórias de vida e situação processual no Poder Judiciário
não foram conhecidas pelo pesquisador. Em sessões videogravadas, grupos de quatro ou cinco
crianças foram convidados a brincar de família num setting lúdico previamente organizado
com objetos à disposição, desempenhando personagens que admitissem integrar uma
família. Dois dias após a sessão da qual participou, cada criança conversou individualmente
com o pesquisador, também sob registro em vídeo, acerca da temática estudada, utilizando-se
como material de apoio fotografias de momentos relevantes da sessão e lápis e papel. Sob
análise microgenética, cada oficina foi observada atentamente, repetidas vezes, e episódios
envolvendo significações relacionadas a família, construídas e negociadas pelas crianças,
foram identificados, recortados e transcritos em detalhe; complementarmente, trechos das
conversas foram alçados à discussão. Brincando de família e falando de seus personagens
e ações, as crianças sinalizaram fragmentos perceptivos a respeito desse objeto social; isso,
por meio da explicitação daqueles que julgaram compor uma família, da consideração de
diferenças nas atividades desempenhadas por estes, da referência às distintas relações
estabelecidas entre os personagens , e, especialmente, da forma como negociaram a
condução dos empreendimentos lúdicos coletivos; o que revelou diferentes modos de ser
família . Aparentes recortes mnêmicos de vivências particulares circunscreveram alguns
relatos e ações. Interessante que, independentemente de essas crianças estarem acolhidas
institucionalmente, suas brincadeiras se mostraram semelhantes a outras observadas em
crianças de mesma faixa etária fora de uma situação de acolhimento, com papéis e posições
negociadas. Os resultados evidenciam processos de significação como construções
microgenéticas no aqui e agora das interações, as quais se apresentam imprevisíveis enquanto
recombinação de significados advindos dos distintos parceiros interacionais imersos em um
contexto sócio-histórico. O estudo realizado contribui para a percepção de que, mais do que
crianças institucionalizadas, estas são crianças, e, assim sendo, são socialmente competentes
como quaisquer outras. Além disso, permite refletir sobre o brincar na ontogênese infantil e as
implicações metodológicas quando este é considerado lugar de observação
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