Summary: | Submitted by Marcelo Andrade Silva (marcelo.andradesilva@ufpe.br) on 2015-03-06T16:23:11Z
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Previous issue date: 2012 === CAPES === O Brasil passou por uma drástica mudança nos últimos anos: embora ainda componha a
maioria da população, desde a década de 1950 o catolicismo tem declinado de maneira rápida,
dando lugar ao pentecostalismo. Este movimento religioso é bastante plural, e pode ser
dividido em três gerações de igrejas que, mesmo com semelhanças, possuem características
específicas. As primeiras gerações são marcadas pelo sectarismo e pelo ascetismo, cujo efeito
é um afastamento do fiel das coisas do mundo, à espera de uma recompensa em outra vida. A
terceira geração, porém, nasceu sob um processo de liberalização dos costumes baseada na
Teologia da Prosperidade, que prega que o fiel deve ter “vida em abundância” ainda nesta
existência, e assim rompe com o antigo sectarismo e ascetismo pentecostal. A sociedade
brasileira igualmente vivenciou nas décadas passadas uma profunda transformação nas
relações de gênero, no caminho de forte questionamento do patriarcalismo e um movimento
de emancipação da mulher em relação a seus antigos posicionamentos. Tendo nascido já sob
tais transformações, a Igreja Universal do Reino de Deus foi o objeto desta pesquisa. Seus
objetivos foram analisar como a instituição constrói práticas discursivas sobre as relações de
gênero e sobre as mudanças pelas quais a sociedade brasileira passa nesse quesito. A Igreja
Universal do Reino de Deus apresenta dentro de si as contradições encontradas na sociedade
como um todo: por um lado mantem aspectos das relações de gênero do pentecostalismo de
gerações anteriores; por outro lado, leva adiante mudanças no sentido de adaptação às
demandas feministas, embora retire parte do seu caráter contestador. Dessa forma, a Igreja
Universal promove repertórios que ao mesmo tempo posicionam mulheres em novos lugares,
anteriormente interditados, como o mundo político e do trabalho, mas em outros momentos
posicionam em lugares tradicionais, como por exemplo de mãe e esposa submissa ao marido.
O homem é posicionado majoritariamente como trabalhador e pai de família. A Psicologia
Social Discursiva serviu de aporte teórico-metodológico, por considerar o discurso como uma
forma de ação e possibilitar a compreensão da variabilidade e do caráter funcional do
discurso. De acordo com esta abordagem, a compreensão que temos da realidade é construída
discursivamente. O gênero não deixaria de ser diferente, sendo mais uma construção
discursiva produzida coletivamente que uma realidade biológica. A Igreja Universal, contudo,
produz práticas discursivas que essencializam o gênero, atribuindo as características
supostamente femininas e masculinas à biologia humana e à criação divina. Tal discurso
contribui para a manutenção de posicionamentos subalternos para a mulher, que é incentivada
a manter-se num lugar submisso à vontade masculina.
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