Summary: | O câncer de cabeça e pescoço (CCP) abrange cerca de 10% dos tumores malignos, sendo uma doença cujo tratamento é agressivo em suas diferentes abordagens. Tanto a doença quanto os tratamentos podem gerar impactos na qualidade de vida (QV) dos pacientes de forma temporária ou definitiva. O objetivo deste estudo foi verificar mudanças na percepção de QV e nas condições de saúde bucal de um grupo de pacientes de CCP tratados em um hospital de Porto Alegre, em relação ao período pré-tratamento após 30 meses decorridos de seu tratamento oncológico. Outro objetivo foi identificar diferenças entre os participantes sobreviventes e falecidos quanto às medidas registradas na linha de base. Na linha de base, foram entrevistados e examinados 46 pacientes com tumores primários em regiões de cabeça e pescoço e que ainda não haviam iniciado o tratamento oncológico. No acompanhamento, foram constatados 23 óbitos e 04 perdas entre os integrantes do grupo inicial, conseguindo-se entrevistar e examinar 19 sobreviventes. Foram utilizados os questionários de QV geral abreviado da Organização Mundial de Saúde (WHO Quality of Life Bref – WHOQOL Bref) e o de QV relacionado à saúde específico para pacientes de CCP da European Organisation for Research and Treatment of Cancer (EORTC Quality of Life Questionnaire Head &Neck 35 – EORTC H&N 35), e os índices de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D), e de Uso e Necessidade de Prótese. Ainda, foram registradas informações de autopercepção de saúde bucal, acesso e satisfação dos sobreviventes em relação ao atendimento odontológico. Para a análise estatística, as medidas iniciais e finais foram comparadas utilizando-se os testes qui-quadrado, Exato de Fisher, T de Student e Mann-Whitney. Na linha de base, foram encontradas diferenças significativas entre os pacientes sobreviventes e falecidos em relação ao estadiamento tumoral, tipo de tratamento, disfagia, domínio físico do questionário de QV WHOQOL Bref, escore geral do questionário de qualidade de vida relacionado à saúde EORTC H&N35 e seus itens dor, deglutição e comer em público. De forma geral, após uma média de 32 meses de acompanhamento, os sobreviventes apontaram impactos físicos relacionados ao câncer e seu tratamento, contudo, sua percepção de QV não sofreu alteração significativa no acompanhamento de longo prazo. Em relação às condições de saúde bucal, houve elevação do escore médio do CPO-D e do uso de próteses dentárias. Os pacientes sentiram necessidades de atendimento odontológico em razão de dor e reabilitação protética no período pós-tratamento oncológico e, com exceção de quatro casos, não receberam acompanhamento odontológico sistematicamente organizado com relação ao CCP. Os achados deste estudo acompanham as recomendações da literatura para incluir, rotineiramente, a avaliação de QV pelos serviços oncológicos, como uma ferramenta que potencializa a qualificação deste cuidado posto que permite aprofundar a compreensão dos pacientes e de suas necessidades. === Head and neck cancers, which represent approximately 10% of all malignancies, usually have an aggressive treatment, irrespective of the therapeutic approach. Both the disease and its treatment may impact temporarily or definitively on quality of life. The objective of this study was to verify changes in the perception of quality of life and in the oral health of patients with head and neck cancer in a hospital of the city of Porto Alegre, immediately before and at least 30 months after the cancer treatment. Additional objective was to evaluate the differences between survivors and deaths in respect to baseline measures. Baseline evaluation comprised interviews carried out with 46 patients diagnosed with primary head and neck tumors before the start of the oncologic treatment. The follow up study was carried out with 19 survivors, while 23 participants died during the follow up and the 4 remaining were not located. Quality of life was assessed using WHOQOL Bref and EORTC H&N 35 questionnaires, while oral health examinations included DMFT and dental prostheses assessments following the WHO criteria. Information in respect to self-perceived oral health, access to and satisfaction with oral health services were also collected. Baseline and follow up measures were compared using Chi-square, Fisher’s exact, Student’s t and Mann-Whitney tests. Baseline results revealed significant differences between survivors and deaths in respect to tumor stage, type of treatment, dysphagia, physical domain WHOQOL Bref scores, EORTC H&N 35 full scores and pain, swallowing and eating in public items. Overall, survivors reported physical impacts related to the disease and its treatment. However, the perception of quality of life was not significantly changed during follow up. In respect to oral health, there was an increase in the mean DMFT and in the use of dental prostheses between the baseline and the follow up after 30 months. Participants of the follow up reported the need of dental treatment due to pain and dental prosthetic rehabilitation after the completion of the cancer treatment. With the exception of four participants, cancer patients who took part of the study did not receive systematic oral care. The findings of this study are in accordance with the previous recommendations of the inclusion of quality of life evaluations routinely by oncologic services in order to provide a tool to potentiate the quality of care and to improve the understanding of the cancer patients and their needs.
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