Virtuosismo e exposição : a lógica neoliberal na educação profissionalizante

Esta Tese procura problematizar as feiras, mostras e exposições da educação profissional e tecnológica como espaços educativo-produtivos que operam tanto no âmbito do desenvolvimento de saberes que escapam ao ambiente escolar formal, e que, portanto, são de difícil desenvolvimento, objetivação e for...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Cruz, Jairo Antonio da
Other Authors: Veiga-Neto, Alfredo José da
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2017
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10183/164359
Description
Summary:Esta Tese procura problematizar as feiras, mostras e exposições da educação profissional e tecnológica como espaços educativo-produtivos que operam tanto no âmbito do desenvolvimento de saberes que escapam ao ambiente escolar formal, e que, portanto, são de difícil desenvolvimento, objetivação e formalização nas salas de aulas e laboratórios, quanto no âmbito da formação das subjetividades trabalhadoras, entendendo estas estratégias como uma forma de governo das condutas dos estudantes-trabalhadores, ou como uma forma de governamento da sociedade. Para tal problematização, utilizei como lócus privilegiado de análise uma das maiores mostras de trabalhos técnicos da América Latina, a Mostratec (Mostra Brasileira/Internacional de Ciência e Tecnologia). De forma geral, pretendi analisar como esta mostra conduz as condutas dos estudantes-trabalhadores, tomando o conceito de governamentalidade como o fio condutor de minha pesquisa, de forma que ele atravessasse minhas incursões pelas teorizações e pelas análises realizadas. De forma mais detalhada, tentei mostrar que as feiras, mostras e exposições da educação técnica profissionalizante operam como lócus privilegiado para a formação das subjetividades dos estudantes-trabalhadores, formação essa que se dá a partir de dois processos ou tratamentos da subjetividade — sujeição social e servidão maquínica — que são complementares, interdependentes e que contribuem para o funcionamento da educação escolar e do próprio neoliberalismo. Argumenta-se que os deslocamentos contemporâneos no mundo do trabalho e na produção fazem com que algumas das tecnologias de governamento da sociedade sejam revalorizadas e reelaboradas no novo contexto do ensino técnico profissionalizante, que tem se apresentado, historicamente, como um sintoma implicado do desenvolvimento das forças produtivas. Considerando-se que a formação do estudante-trabalhador, vinculada às novas necessidades do trabalho contemporâneo, depende cada vez mais do seu caráter imaterial e da produção e do investimento cada vez mais precoce de si mesmo, ou seja, representa um processo onde o “produto” do aprendizado é inseparável do ato de produzir, podemos considerar que a produção escolar-empresarial se aproxima de uma execução virtuosística característica de atividades que encontram seu próprio cumprimento em si mesmas e que exigem a presença de um público. Busquei mostrar que feiras, mostras e exposições da educação profissional e tecnológica operam como estratégias neoliberais de governamento, tanto como um espaço público estatal que permite aos estudantes-trabalhadores executarem seu virtuosismo na presença do outro, quanto como estratégias para o desenvolvimento de saberes que escapam ao ambiente escolar formal. Por outro lado, também visam o desenvolvimento da individualização e da desigualdade concorrencial, bem como o bloqueio e a interrupção do excedente dos processos cognitivos, dos movimentos de cooperação, conhecimento e linguagem, visto que, para existir, o capital precisa bloquear os processos de captação social do valor, porque estes são excedentes, vão além de sua capacidade de comando. === This thesis seeks to problematize the fairs and exhibitions of professional and technological education as educational-productive spaces that operate both in the scope of the development of knowledges that escape the formal school environment, and which, therefore, are difficult to develop, objectify and formalize in the classrooms and laboratories, and in the context of the formation of working subjectivities, understanding these strategies as a form of governing student-worker behavior, or as a form of governing society. For this problematization, I used as the privileged locus of analysis one of the largest exhibitions of technical works in Latin America, the Mostratec (Mostra Brasileira / Internacional de Ciencia e Tecnologia). In general, I intended to analyze how this show conducts student-worker behaviors, taking the concept of governmentality as the guiding thread of my research, so that it crosses my incursions by the theorizations and the analyzes carried out. In a more detailed way, I have tried to show that the fairs, exhibitions and exhibitions of vocational technical education operate as a privileged locus for the formation of subjectivities of student-workers, a formation that takes place from two processes or treatments of subjectivity - social subjection and machinic servitude - which are complementary, interdependent and contribute to the functioning of school education and neoliberalism itself. It is argued that contemporary displacements in the world of work and production mean that some of the technologies of society governance are revalued and reworked in the new context of vocational technical education, which has performed historically, as a implicated symptom of productive forces development. Considering that the formation of student-worker, linked to new contemporary work needs, increasingly depends on its intangible character, production and the investment itself ever more precocious, is a process where the "product" of learning is inseparable from the act of producing, we can consider that the school-enterprise production approaches a feature virtuosic execution of activities that find their own fulfillment in themselves and which require the presence of a public. To analyze and discuss the fairs, shows and exhibitions of professional and technological education, we seek to show that they operate as neoliberalist strategies of government, both as a state public space that allows student-workers to perform their virtuosity in the presence of other, and as strategies for the development of knowledge that flee the formal school environment. On the other hand, also aimed at the development of individualization and the competitive inequality, as well as blocking and stopping surplus of cognitive processes, movements of cooperation, knowledge and language, since to exist, the capital needs to block the process social capture of value, because these are surplus beyond their ability to command.