Summary: | A presente pesquisa tem por enfoque o processo de construção identitária a partir da articulação entre a esfera de trabalho e a esfera familiar, considerando que estes são espaços de socialização que permitem aos indivíduos assumir papéis sociais e a partir disso articular suas vivências. A problemática geral do trabalho, portanto, diz respeito aos processos de elaboração da identidade pelos próprios indivíduos, uma vez que as identidades são construções sociais e implicam a interação entre trajetória individual e os vínculos estabelecidos pela atuação em diversas esferas. Optamos aqui pela articulação entre a esfera familiar e profissional, uma vez que nossa unidade de análise empírica são trabalhadores, mais especificamente casais de uma empresa de grande porte do interior do Rio Grande do Sul, cidade de Carlos Barbosa, que tem como prática contratar vários membros da mesma família para o seu quadro de funcionários. A unidade de produção em questão possui 2.000 trabalhadores, sendo que dentre esses existem 300 casais, em sua maioria operários da produção. Para análise dos processos identitários, seguimos a idéia de que a identidade é fruto dos diversos processos de socialização nos quais o indivíduo está inserido. Junto da análise dos processos identitários ainda investigamos sobre a preferência da empresa por usuariamente contratar parentes das pessoas que nela já trabalham. As hipóteses deste estudo estão calcadas na idéia de que esta prática, denominada pela empresa de “valorizar a prata da casa”, é um recurso usado para controle dos trabalhadores entre si, visando a um maior controle dos mesmos pela empresa. Acreditamos também que as diferentes percepções e opiniões sobre a prática da empresa como um recurso para promover a ramificação do controle está associada a um determinado tipo identitário. Para o tratamento das informações e análise do material coletado através de entrevistas semi-estruturadas, usamos a análise de conteúdo temática. As entrevistas desenvolvidas exploram duas áreas essenciais: “mundo vivido no trabalho” e “mundo vivido na família”. É pela intersecção desses campos que procuramos definir as identidades possíveis, uma vez que optamos por seguir as sugestões teóricas de Claude Dubar, apresentadas, sobretudo, na obra A Socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Dubar determina que as configurações identitárias são resultantes de uma dupla transação entre, de um lado, o indivíduo e as instituições (principalmente a empresa em que trabalha/ dimensão relacional) e, de outro, o indivíduo confrontado com as mudanças, seu passado e sua trajetória pessoal (dimensão biográfica). Nesse sentido, ao longo da análise, no intuito de dar um norte a nossa interpretação das representações sociais dos entrevistados, procuramos trabalhar com as dimensões indicadas acima, relacional e biográfica, isto é, interpretar as representações dos sujeitos na sua relação com os outros e consigo mesmo. Por meio da compreensão das representações dos entrevistados sobre suas trajetórias pessoal e familiar, ou seja, das narrativas que buscam dar sentido a essas trajetórias, elaboramos três perfis identitários as – identidades possíveis – objetivando definir as identidades sociais dos casais pesquisados. === This research has focused on the process of identity construction as a product of the relationship between work and family sphere, considering that these are areas of socialization that enable individuals to take social roles upon and then articulate their experiences. Therefore, the general problem of work concerns the drawing up identity process of the individuals themselves since identities are social constructions and involve the interaction between individual course and the links established by the performance in different spheres. Here we choose the relationship between family and professional sphere, since our unit of empirical analysis is composed by workers, specifically couples from a large company in the countryside of Rio Grande do Sul, Carlos Barbosa city, which usually hire many members of the same family for its staff frame. The production unit in question has 2,000 workers and among these there are 300 couples, mostly workers of production. To analyse the identity processes, we follow the idea that identity is the result of many processes of socialization in which the individual is inserted. Besides the analysis of identity we still investigate cases about the company's preference in hiring relatives of its employees. The hypotheses of this study are based on the idea that this practice, called by the company "valuing our own staff”, is a resource used by workers to control themselves aiming a greater control of them by the company. We also believe that different perceptions and views on the company practice as a resource to promote control branching are associated to a particular type identity. For information processing and analysis of collected material through semi-structured interviews, we used the analysis of thematic content. The interviews carried operate two fundamental key areas: "world lived at work" and "world lived in family." It is through the intersection of these fields that we seek to define possible identities, since we choose to follow Claude Dubar’s theoretical suggestions, especially those of the work Socialization: construction of social and professional identities. Dubar establishes that identity constructions result from a dual transaction between, on one side, individuals and institutions (mainly the company in which he/she works/ relational dimension) and on the other the individual faced to the changes, his/her past and personal background (biographical dimension). In this sense, all over the analysis, in order to provide a direction to our interpretation of the interviewees’ social representations, we tried to work with the dimensions shown above, relational and biographical, that is, we tried to interpret the representations of the subjects in their relationship with others and with himself/herself. Through the understanding of the representations of those interviewed in relation to their personal and family trajectories, in other words, the narratives that seek to give effect to these trajectories, we made three identity profiles – possible identities – aiming to define the social identities of the surveyed couples.
|