Summary: | Esta pesquisa objetivou analisar a partir da percepção dos usuários aderentes ao tratamento da tuberculose, os sentidos atribuídos aos riscos da doença. O estudo foi realizado com base nas teorias sociológicas sobre ‘risco’, em especial, as que enfatizam o caráter sócio cultural do risco. O estudo com abordagem qualitativa foi desenvolvido a partir da Teoria Fundamentada em Dados. A coleta dos dados se deu por meio de entrevista semiestruturada, tendo como sujeitos 19 usuários aderentes ao tratamento para tuberculose. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da UFRGS. Os resultados foram organizados em três categorias e deram origem ao fenômeno central da teoria “Reconhecendo-se como sujeito de riscos: a consciência dos possíveis danos da tuberculose”. Para os participantes da pesquisa, “risco” tem uma conotação negativa, estando associado à possibilidade de perigo ou de dano potencial. O processo de atribuição de sentidos foi influenciado por elementos do contexto social e cultural em que esses indivíduos vivem. A inclusão dos danos potenciais da tuberculose ao portfólio pessoal de riscos não inaugurou uma nova identidade de sujeito, pois mesmo antes da comunicação do diagnóstico, os usuários já realizavam cálculos probabilísticos e ações de gerenciamento desses danos. Para além dos discursos da saúde, a tuberculose acrescentou um sentido específico para os riscos da doença, os riscos relacionais. Os riscos relacionais foram definidos como a possibilidade de danos que a tuberculose representa às interações do indivíduo doente com a sociedade, com interferência nas dimensões públicas e privadas da vida cotidiana. Na esfera pública, os participantes referiram à mudança na imagem corporal e as alterações dos papéis de gênero reconhecidos socialmente. Na esfera privada, foi enfatizada a interferência nas relações com os familiares no que diz respeito ao vínculo familiar e à saúde de outros membros da família. A onipresença do risco no cotidiano das sociedades contemporâneas resulta na constante necessidade de avaliar o presente e seus riscos e de, a partir de escolhas entre quais riscos são e não são aceitáveis, definir o caminho a seguir. Esse processo reflexivo realizado cotidianamente é produtor de identidades para o “eu”, levando, os participantes a buscaram uma identidade de sujeito preocupado com o seu cuidado e com o cuidado do outro, preservando suas relações pessoais e o convívio na sociedade. === This research aimed at analyzing, from the perception of users adhering to tuberculosis treatment, the meanings assigned to the disease risks. The study was carried out based on the sociological theories about “risk” especially those that emphasize the social and cultural character of risk. The study with qualitative approach was developed from the Data Grounded Theory. The data collection was made by means of a semi-structured interview with 19 users who adhered to the tuberculosis treatment. The project was approved by the ethics research committee of UFRGS. The results were organized into three categories and gave origin to the central phenomenon of the theory “Recognizing oneself as subject of risks: awareness of possible tuberculosis damages”. According to the research participants, “risk” has a negative connotation being linked to the possibility of risk or potential damage. The process of attributing meanings was influenced by elements from the social and cultural context wherein these subjects live. The inclusion of tuberculosis potential damages in the personal risks portfolio did not provide a new subject identity because even before the diagnosis communication, the users already made probability calculations and actions to manage such damages. Beyond health speeches, tuberculosis has added a specific meaning to the disease risks, i.e. the relations risks. These were defined as the possibility of damages that tuberculosis represents to the interactions of the ill subject with society which interfere in the public and private dimensions of daily life. Regarding the public realm, the participants referred to the changes in the body image and in the socially-recognized gender roles. Within the private sphere, emphasis was given to the interference in the relations with relatives as to the family bond and the health of other family members. The risk omnipresence in the daily life of contemporaneous societies results in the constant need of evaluating the present and its risks and, from the choices between which risks are acceptable and which are not, of defining the way to follow. This reflexive process, when carried out daily, produces identities for “oneself” leading the participants to search for an identity of a subject concerned with his own care and with the care of others, by preserving his personal relations and life in society. === Esta pesquisa intentó analizar los sentidos atribuidos a los riesgos de la enfermedad desde la percepción de los usuarios adherentes al tratamiento contra la tuberculosis. Es un estudio con base en las teorías sociológicas sobre ‘riesgo’, especialmente las que enfatizan su carácter social y cultural. El estudio con abordaje cualitativo fue desarrollado a partir de la Teoría Fundamentada en Datos. La recolección de los datos se dio por medio de entrevista semi-estructurada con 19 usuarios adherentes al tratamiento contra la tuberculosis. El comité de ética en pesquisa de la UFRGS aprobó el proyecto. Los resultados, organizados en tres categorías, originaron el fenómeno central de la teoría “Reconociéndose como sujeto de riesgos: la consciencia de los posibles daños de la tuberculosis”. Según los participantes de la pesquisa, “riesgo” tiene una connotación negativa, siendo asociado a la posibilidad de peligro o de daño potencial. El proceso de atribución de sentidos fue influenciado por elementos del contexto social y cultural en que eses individuos viven. La inclusión de daños potenciales de la tuberculosis en el portfolio no inauguró una nueva identidad de sujeto, pues mismo antes de la comunicación del diagnóstico, los usuarios ya realizaban cálculos de probabilidad y acciones para su manejo. Para allá de los discursos de la salud, la tuberculosis añadió un sentido específico a los riesgos de la enfermedad, lo de riesgos relacionales. Se los definieron como la posibilidad de daños que la tuberculosis representa a las interacciones del individuo enfermo con la sociedad, con interferencia en las dimensiones públicas y privadas de la vida cotidiana. Acerca de la esfera pública, los participantes refirieron el cambio en la imagen corporal y las alteraciones de los papeles de género reconocidos socialmente. En la esfera privada, enfatizaron la interferencia en las relaciones con familiares acerca del vínculo familiar y de la salud de otros miembros de la familia. La omnipresencia del riesgo en el cotidiano de las sociedades contemporáneas resulta en la constante necesidad de evaluar el presente y sus riesgos y, tras elegir cuales riesgos son y no son aceptables, de definir el camino a seguir. Ese proceso reflexivo cotidiano produce identidades para el “yo” llevando los participantes a buscar una identidad de sujeto preocupado con su cuidado y con el cuidado del otro, preservando sus relaciones personales y el convivio en sociedad.
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