Summary: | A psiquiatria moderna tem avançado no sentido de não mais apenas focar-se em descrever as síndromes psiquiátricas clínicas, mas também no intuito de entender os mecanismos pelos quais processos biológicos e psicológicos disfuncionais podem levar a trajetórias atípicas de desenvolvimento. Os quatro artigos desta tese se inserem dentro deste contexto e procuram buscar os mecanismos genéticos (artigo #1) e neuropsicológicos (artigos #2, #3 e #4) envolvidos em transtornos mentais comuns na infância. Eles se utilizam dos dados de dois grandes estudos de base comunitária e que integram tanto avaliações psiquiátricas como uma série de avaliações neuropsicológicas e biológicas. O primeiro artigo teve a intenção de estudar o papel moderador do estágio puberal no risco conferido por variações genéticas na região promotora do gene transportador da serotonina para os sintomas de depressão na adolescência. Este estudo mostrou que, apenas nos adolescentes pós-púberes (mas não em pré-púberes e púberes), as variantes de alta expressividade desse polimorfismo (LgLg) são protetoras para os sintomas de depressão na adolescência. Esse artigo avança na compreensão mecanística dos sintomas depressivos por demonstrar que variações genéticas podem apenas exercer seus efeitos de risco e proteção após períodos de regulação da sua expressão, como os que ocorrem de forma programada na puberdade. O segundo artigo aborda a orientação da atenção para estímulos ameaçadores (faces de raiva) e recompensadores (faces de felicidade). Em uma grande amostra de sujeitos da comunidade (n=2512), este estudo mostrou que sintomas de internalização na infância (como ansiedade e depressão), estão associados a vigilância para estímulos ameaçadores. Além disso, o efeito dos sintomas internalizantes foi diferente dentro de cada grupo de psicopatologia. Enquanto crianças com transtornos do estresse (ansiedade generalizada, depressão e estresse pós-traumático) mostraram vigilância para estímulos ameaçadores, as crianças com fobias evitaram esses estímulos. Este estudo avança na compreensão mecanística destes transtornos, no sentido de demonstrar que o tipo da psicopatologia pode interferir na direção da orientação da atenção. O terceiro artigo tem a intenção de estudar os mecanismos de processamento básico (p.ex, preparação motora, eficiência de processamento) e de controle inibitório (capacidade de inibir um estímulo quando há uma forte tendência para executá-lo) no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Esse artigo avança no entendimento dos mecanismos relacionados ao TDAH ao demonstrar que uma pior eficiência de processamento é um déficit específico do TDAH e não encontrado em qualquer outro transtorno psiquiátrico investigado. Além disso, desafia a hipótese executiva do TDAH, embasada no controle inibitório, ao mostrar que todos os achados nessas tarefas foram explicadas por déficits em processamento básico. O quarto artigo é desenhado para testar a hipótese de dimensionalidade do TDAH. Este estudo confirma que déficits neuropsicológicos encontrados como sendo característicos do TDAH estão associados com desatenção e hiperatividade/impulsividade em sujeitos de desenvolvimento típico. Desta maneira provê uma evidência fisiopatológica de que mecanismos de processamento básico estão envolvidos em todo o espectro de problemas atencionais e de hiperatividade/impulsividade. A compreensão dos mecanismos de doença na psiquiatria moderna é imperativa. A combinação das neurociências à clínica psiquiátrica apresenta-se como uma alternativa promissora de avançar o conhecimento, sem perder os referenciais teóricos que movem o campo adiante. === Modern psychiatry is focused not only in describing psychiatric clinical syndromes, but also in understanding the biological and psychological dysfunctional mechanisms that may lead to atypical developmental trajectories. The four papers of this thesis are based on this concept and look for finding genetic mechanisms (paper #1) and neuropsychological mechanisms (papers #2, #3 and #4) involved in psychiatric disorders in childhood. These studies were performed in two large community-base studies that integrate both clinical assessment and a variety of neuropsychological evaluations and biological measures. The first paper had the objective to study the role of puberty as a moderator for the risk conferred by genetic variations in the promoter region of the serotonin transporter for depressive symptoms in adolescence. This study showed high expression variations of this polymorphism (LgLg) are protective for depressive symptoms only in post-pubertal adolescents (but not in pre-pubertal and pubertal). This study advances in the comprehension of depressive symptoms suggesting that genetic variations may exert their risk and protective effects only after some periods of regulation of their expression, like the programed regulation period that takes place during and after puberty. The second paper focus on attention orienting to threats (angry faces) and rewards (happy faces). In a large sample of subjects from the community (n=2512), this study showed that internalizing symptoms in childhood (such as symptoms of anxiety and depression) were associated with vigilance to threating stimuli. Besides that, the effect of internalizing symptoms was different in each different psychopathological group. Whereas in children with distress-related disorders (generalized anxiety, depression and post-traumatic stress disorder) internalizing symptoms increased vigilance toward threats, in children with fear-related disorders internalizing symptoms were associated with threat avoidance. This study adds to the understanding that different forms of psychopathology may influence the direction of attention orienting for being towards or away threats. The third paper aimed to study basic processing mechanisms (e.g., motor preparation, processing efficiency) and inhibitory-based executive function (ability to inhibit a stimulus when there is a strong tendency to execute it) in Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD). This paper helps understanding the mechanisms associated with ADHD in demonstrating that poorer processing efficiency in tasks with no executive component is a specific deficit of ADHD, which is not found in any other psychiatric disorder. Besides that, it challenges the inhibitory-based executive hypothesis of ADHD in showing that all executive deficits were fully explained by deficits in basic processing. The forth paper intends to test the hypothesis that ADHD is a dimensional disorder taking evidence from deficits in basic processing. This study corroborates that the same neurocognitive deficits in basic processing that were found to be characteristic to ADHD were also associated with attention and hyperactivity/impulsivity in typically developing children. This study provides pathophysiological evidence that deficits in basic processing efficiency are involved in the whole spectrum of inattention and hyperactivity/impulsivity. The mechanistic comprehension in modern psychiatry is imperative. The combination of neurosciences to clinical psychiatry is a promising strategy to advance in scientific knowledge without loosing the theoretical references and helps moving the field forward.
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