Summary: | Ce travail vise à analyser l‟influence de l‟argent sur les relations sociales entre agriculteurs familiaux et dirigeants de coopératives de crédit rural, réunies dans le Système de Coopératives CRESOL Central SC/RS. Détaché du Système CRESOL-BASER en 2004, le CRESOL Central SC/RS compte depuis plus de 96 000 associés répartis dans 60 coopératives singulières de 150 municipalités, essentiellement situées dans les états du sud brésilien. La problématique de recherche part du présupposé selon lequel l‟intensification de l‟utilisation de l‟argent remplit deux fonctions : 1) rationaliser la gestion et diminuer l‟influence de la tradition dans l‟organisation économique de l‟unité domestique ; et 2) faire circuler des symboles, des sentiments et des intérêts qui délimitent, définissent et signifient les relations sociales. Dans ce sens, l‟accent est mis sur les stratégies adoptées par les dirigeants pour la signification de l‟argent dans ce système. Deux concepts opérationnels sont exploités pour établir un lien entre théorie et réalité empirique : a) le circuit économique tel que proposé par Viviana Zelizer (2005), à savoir une configuration importante et plus complexe des liens sociaux. Sa fonction est de permettre la circulation d‟accords, pratiques, informations, instruments d‟échange et symboles partagés dans cet environnement. Ce concept sera utilisé pour caractériser le Système CRESOL Central SC/RS. b) Les médiateurs, concept développé par Dough McAdam, John McCarthy et David Zald (1999) et utilisé pour définir le rôle des dirigeants et techniciens des coopératives. L‟hypothèse de base est que les médiateurs sont responsables de l‟alignement de la dimension rationnelle-instrumentale de l‟argent sur la proposition de significations à partir des relations d‟intimité, dans le but de renforcer les liens sociaux et l‟identité du circuit. Pour ce faire, 1) ils définissent les frontières du circuit ; 2) ils développent des actions pour conquérir l‟intimité des agriculteurs en se servant de la confiance, de la réciprocité et de l‟amitié pour consolider l‟organisation ; 3) ils élaborent les significations de l‟argent pour proposer de bonnes « combinaisons » entre intimité, culture et rationalité instrumentale. Le débat théorique central de cette étude tourne autour du concept d‟intimité de Zelizer (2005). Pour l‟auteur, l‟intimité incorpore les dimensions de confiance, réciprocité, amitié et représente une possibilité analytique pour dépasser lesdits « mondes hostiles ». Elle met en avant deux types d‟intimité : a) celle qui concerne le transfert d‟informations confidentielles et potentiellement nuisibles ; 2) et celle qui permet des liens étroits et durables entre deux personnes. C‟est dans cette intimité que se produisent les transferts économiques, d‟où le rôle majeur de sa conquête par les médiateurs pour l‟ajustement de la relation sociale. Ce nonobstant, cette étude opère également une critique du concept d‟intimité à deux niveaux : 1) elle propose d‟éviter la survalorisation de l‟intimité comme base théorique pour comprendre les transactions économiques ; 2) elle s‟attache à valoriser les questions politiques impliquant des relations intimes à travers la problématisation de la motivation des médiateurs, un thème négligé par Zelizer. La base méthodologique se rapproche de l‟ethnographie, avec un corpus constitué d‟entretiens semi-structurés, d‟observation de pratiques, de discours et de routines, de photographies et de matériels de publication institutionnelle. L‟analyse des données montre que les médiateurs et les agriculteurs familiaux reconnaissent la nécessité de délimiter et de différencier les relations d‟amitié des relations d‟affaires, les frontières entre ces deux sphères étant généralement dépassées. En outre, il apparaît que dans le Circuit CRESOL Central SC/RS les médiateurs convertissent les liens de proximité, confiance et amitié en lien institutionnel. En tentant de transformer des transactions économiques en intimité et des transferts financiers en amplification et consolidation de l‟identité du circuit, on s‟aperçoit que leur action acquiert un sens instrumental. === Este estudo analisa como o dinheiro afetou a relação social entre agricultores familiares e dirigentes de cooperativas de crédito rural articuladas em um Sistema de Cooperativas denominado CRESOL Central SC/RS. Desmembrado do Sistema CRESOL-BASER em 2004, em seis anos o Sistema totalizou mais de 93 mil associados em 60 Cooperativas Singulares em 150 municípios, prioritariamente nos Estados do sul do Brasil. O problema de pesquisa parte da ideia de que a intensificação da utilização do dinheiro cumpre uma dupla finalidade: 1) de racionalizar a gestão e diminuir a influência da tradição na organização econômica da unidade doméstica e; 2) de transportar símbolos, sentimentos e interesses que demarcam, definem e significam as relações sociais. Assim, o problema central analisa as estratégias adotadas pelos dirigentes para significação do dinheiro neste Sistema. Dois conceitos operacionais foram úteis para relacionar teoria e realidade empírica: 1) Circuito Econômico, proposto por Viviana Zelizer (2005) como uma configuração importante e mais complexa dos laços sociais. Sua função é permitir a circulação de acordos, práticas, informações, instrumentos de troca e símbolos partilhados neste ambiente. Este conceito será últilizado para caracterizar o Sistema CRESOL SC/RS. O segundo conceito é o de mediadores, desenvolvido por Dough McAdam, John McCarthy e David Zald (1999), que será utilizado para definir o papel dos dirigentes e técnicos das Cooperativas. A hipótese é de que os mediadores são responsáveis pelo alinhamento entre a dimensão racional-instrumental do dinheiro e a proposição de significados a partir de relações de intimidade com a finalidade do fortalecimento dos laços sociais e identidade do Circuito. Para isto: 1) definem as fronteiras do circuito; 2) desenvolvem ações para capturar a intimidade dos agricultores, convertendo a confiança, a reciprocidade e amizade em fortalecimento da organização e; 3) elaboram os significados do dinheiro propondo “boas combinações” entre intimidade, cultura e racionalidade-instrumental. Assim, o debate teórico central deste estudo gravita em torno do conceito de intimidade de Zelizer (2005). Para a autora a intimidade incorpora as dimensões da confiança, reciprocidade e amizade e constitui-se como uma possibilidade analítica para superação dos chamados “mundos hostis”. Assim, existiriam dois tipos de intimidade: 1) a que suporta transferência de informações confidenciais e potencialmente “minadas”; 2) laços estreitos duráveis entre duas pessoas. É nesta intimidade que ocorrem as transferências econômicas e é por este motivo que a captação da intimidade pelos mediadores torna-se um objetivo de primeira grandeza para o ajuste da relação social. No entanto, este estudo critica o conceito de intimidade em duas perspectivas: 1) evita a supervalorização da intimidade como base teórica para compreensão das transações econômicas e 2) valoriza as questões políticas que envolvem relações íntimas através da problematização da motivação dos mediadores, tema negligenciado em Zelizer. A base metodológica aproxima-se da etnografia e seu corpus é constituído por entrevistas semi-estruturadas, observação de práticas e discursos e rotinas, fotografias e materiais de publicação institucional. A partir da análise dos dados, concluiu-se que os mediadores e agricultores reconhecem a necessidade de demarcação e diferenciação das relações de amizade com as de negócios, sendo que geralmente as fronteiras entre estas duas esferas são ultrapassadas. Além disto, comprovou-se que no Circuito CRESOL SC/RS os mediadores operam a estratégia de converter laços de proximidade, confiança e amizade em vinculação institucional. Sua ação adquire um viés instrumental na tentativa de converter transações econômicas em intimidade, transferências financeiras em ampliação e fortalecimento da identidade do Circuito.
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