Summary: | Nesta pesquisa, temos o objetivo de problematizar a clínica e o corpo no hospital, especificamente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. A partir da experiência clínica como psicóloga em um hospital da mulher, fomos percorrendo as instituições e afetos presentes nesse espaço. Primeiramente, resgatamos a história do hospital, e da clínica, em sua configuração moderna e contemporânea enquanto tecnologia de cura, guiada pela medicina e permeada pela organização disciplinar. Neste espaço, vemos emergir um corpo orgânico e individualizado, a ser olhado e manipulado. Também retomamos as constituições da infância e da família neste período, no qual o bebê se torna alvo de cuidados e a família, instrumento de aperfeiçoamento do biopoder. Surgem, neste contexto, os sentimentos de infância e familiais, assim como a maternidade como forma de cuidado primeira e única, reafirmando as subjetividades privatizadas e intimistas. A partir da interface entre essas duas instituições, hospital e família, vamos percebendo esses aperfeiçoamentos da biopolítica nos modos de cuidar e curar na UTI Neonatal. No encontro com as tecnologias avançadas e as políticas de humanização, evidenciamos o paradoxo que se coloca no ato de produzir padrões de saúde e, concomitantemente, acolher as singularidades dos encontros cotidianos num espaço que se dedica a salvar vidas recém-chegadas e já atravessadas pelo risco de dissolução, prematuras. Assim, o que nos interroga nesta pesquisa é como se dão as linhas de fuga, rupturas desses modos homogeneizantes e generalizantes de produzir saúde no hospital. A pergunta é sobre a potência do corpo e da clínica diante das institucionalizações e significações estabelecidas. Apesar do apacientamento e das modelizações, constroem-se estratégias microscópicas singulares de escapar, de questionar e de produzir outros modos de vida, a partir das inquietações sentidas no corpo. Para tanto, afirmamos uma metodologia que toma o corpo e seus afetos como impulsionadores da produção de conhecimento. Corpo e pensamento se juntam para construir uma cartografia dos processos clínicos na UTI Neonatal, resgatando a sensibilidade higienizada pela racionalidade e o plano da expressão, da produção de sentidos. Através de fragmentos de diários de campo, colocamos em análise o modo como se dão os encontros neste espaço, tentando acompanhar e criar linhas de fuga e diferenciação. Neste trajeto, fomos percebendo que os encontros com o bebê prematuro, fragilizado e miniaturizado despertava em nós profissionais e familiares um sentimento de infância, resgate do plano de sensibilidade apacientado na forma adulto-homem. Assim, abriam-se brechas para o inesperado, não calculado, mesmo que muitos investimentos de salvar e expectativas de formar um adulto promissor se voltassem para esse bebê. A partir, então, destes afetos, nos conectávamos com nossas próprias fragilidades enquanto clínicos não sabedores, pais insuficientes ou bebês não funcionais, adentrando um plano comum de composição múltiplo e impessoal, e resgatando nossa própria infinitude e coletividade constitutivas. Deixando passar tais intensidades advindas desses encontros fissurados, fomos acompanhando algumas possibilidades minúsculas de reinvenção e composição de uma clínica que não busca se afirmar como uma nova identidade e se quer minúscula em contraposição às grandezas do hospital, da ciência e das políticas. Logo, afirmamos uma ética que se faz a cada novo encontro, singular e imanente. Tal ética da vida e da clínica abre espaço para valorização de uma vida intensiva, e não somente orgânica, a ser preservada, potencializada e expandida. === In this research, we aim to discuss the clinic and the body in the hospital, specifically in the Neonatal Intensive Care Unit. Based on the clinical experience as a psychologist in a women's hospital, we walked down the institutions and affection in this space. Firstly, we brought back the history of the hospital, and clinic, in its modern and contemporary settings while curing technology, guided by medicine and permeated by disciplinary organization. In this space, we see emerging an organic and individualized body, to be viewed and manipulated. Also we returned the childhood and family constitutions in this period, in which the baby becomes a target of cares and the family, an instrument for improvement of biopower. Arise, in this context, the childhood and familial feelings, as well as motherhood as a form of first and only care, confirming the privatized and intimate subjectivities. From the interface between these two institutions, hospital and family, we realize these biopolitics improvements in the modes of caring and healing in the Neonatal ICU. At the meeting with the advanced technologies and policies of humanization, we noted the paradox that arises in the act of producing standards of health and concomitantly welcome the singularities of daily encounters in a space that is dedicated to saving newcomers lives and already crossed the danger of dissolution, premature. So what questions to us in this research is how to happen the lines of escape, breaks of these homogenizing and generalizing modes of producing health in the hospital. The question is about the body and clinic potency in front of the institutionalization and meanings established. Although the resignation and modeling, build up singular and microscopic strategies to escape, to question and to produce other ways of life, from of the concerns felt in the body. For this purpose, we affirm a methodology that takes the body and its affections as drivers of knowledge production. Body and mind come together to build a cartography of clinical processes in the Neonatal ICU, recovering the sensitivity cleaned by rationality and the plane of expression, of the production of senses. Through fragments of field diaries, put in analysis the way the meetings take place in this space, trying to follow and create lines of escape and differentiation. During this course, we realized that the meetings with the premature baby, fragile and miniaturized aroused in us work and family a sense of childhood, rescue of the sensitivity plan suppressed in adult-man way. Thus, opened up gaps for the unexpected, not calculated, even though many of saving investments and expectations to form a promising adult have returned for this baby. Since then, these affections, we connected us with our own fragilities while not knowing clinicians, insufficient parents or non-functional babies, into a common plan of multiple composition and impersonal, and rescuing our infinity and collectivity constitutive. Passing up such intensities that come from these meetings fissured, we were following some tiny possibility of reinvention and composition of a clinic that does not seek to assert themselves as a new identity and want to be tiny in contrast to the grandeur of the hospital, science and policy. Therefore, we affirm an ethic that builds up with each new encounter, singular and immanent. This ethic of life and clinical open space for recovery of an intensive life, not just organic, to be preserved, potentialized and expanded.
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