Summary: | Este estudo apresenta uma cartografia do processo de inclusão digital em uma escola do campo, de classe multisseriada, situada no interior do Rio Grande do Sul, contemplada pelo Programa Nacional de Educação no Campo em 2013. Busca-se responder à pergunta “Que movimentos em direção ao letramento e emancipação digital podem ser observados, identificados ou verificados em uma comunidade rural a partir da inserção de dispositivos móveis na modalidade de um laptop por aluno em uma escola do campo?”. O estudo visa a observar, acompanhar, cartografar e compreender os movimentos da comunidade escolar e verificar se há mudanças provocadas pela inserção dos laptops indicando ações de letramento digital. Tendo em vista que a proposta do estudo é de acompanhar um processo em andamento, optou-se pela cartografia como inspiração para o método de investigação, pois permite produzir e construir os dados da pesquisa enquanto se realizam as observações das práticas em sala de aula, as entrevistas com os estudantes e professores, e os registros no diário de bordo da pesquisadora. Nessa caminhada, enquanto registra suas observações, cartografando suas percepções com relação aos sujeitos-atores da pesquisa, a pesquisadora se transforma também em um dos atores do processo. A produção dos dados é guiada por cinco pistas, quais sejam: (1) funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo; (2) cartografar é acompanhar processos; (3) cartografar é habitar um território existencial; (4) por uma política da narratividade e os registros em um diário de bordo; e (5) a entrevista de manejo cartográfico e a experiência do dizer. A observação e registro dos movimentos observados permite delinear algumas mudanças na rotina e nas práticas escolares fornecendo subsídios para a análise de mudanças que apontam para situações de letramento e emancipação digital que ultrapassam os limites da sala de aula e da escola. Essa análise perpassa pelos conceitos de autonomia, interação e solidariedade, cooperação e respeito mútuo, emancipação e empoderamento, cultura digital, letramento digital e emancipação digital. Embora a inclusão digital seja um dos objetivos do Pronacampo, os movimentos identificados no estudo e que efetivamente indicam inclusão e letramento digitais são, de fato, provocados pelo comprometimento e envolvimento da comunidade escolar em explorar algumas práticas com os laptops e em buscar soluções para problemas de conectividade e manutenção dos equipamentos. Entre esses movimentos, encontra-se a busca pelo acesso à internet nas residências de alguns estudantes como alternativa à dificuldade de captação de sinal por causa da localização da escola. Também é possível identificar movimentos em direção ao letramento digital cultivado pela postura das professoras em provocar situações para que as crianças explorem recursos e possibilidades de uso dos laptops. Mesmo sem haver conexão à internet na escola, ações espontâneas com algumas crianças se tornando provedores de conteúdos digitais são acolhidas e valorizadas, em um movimento que permite que exercitem seu protagonismo na busca de soluções e alternativas para os problemas encontrados. Com a recente contratação do serviço de banda larga é possível pensar que novos movimentos de letramento e, quiçá, de emancipação digital venham a acontecer no futuro. === This study maps the process of digital inclusion of a rural school, in a mixed-grade classroom system, located in the countryside in the state of Rio Grande do Sul, and which has been included under the Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo) in 2013. The research aims to answer the question “What movements towards digital literacy and digital emancipation can be observed, identified or verified in a rural community from the introduction of 1:1 laptops in a rural school?” The study aims to observe, follow, plot, and understand of those movements and then check whether there are any changes indicating actions of digital literacy in this school. Considering the purpose of following an ongoing process, Deleuze and Guattari’s cartography was chosen as an inspiration for the research method, since it allows producing and building research data as classroom observations, interviews with the students and the teachers, and journal records are carried out. In this journey, while she plots maps of her remarks and perceptions regarding the actors in the research, the researcher becomes herself one of the actors of the process too. Data production and analysis follow five tracks: (1) how attention functions in the researcher’s work; (2) plotting is following processes; (3) plotting is inhabiting the existential territory; (4) for a narrating policy and records in a journal; and (5) handling an interview as per cartography and the experience of what is said. By observing and registering movements that were observed allow to outline a few changes in that routine and in the school practices providing analysis material for the changes that point to situations of digital literacy and digital emancipation situations that go beyond the limits of the classroom and the school. The analysis is carried out considering concepts of autonomy, interaction and solidarity, cooperation and mutual respect, empowerment and emancipation, digital culture, digital literacy and digital emancipation. Although digital inclusion is one of the goals set by Pronacampo, the movements identified in the study and that effectively indicate some digital inclusion and literacy are actually provoked by the community’s commitment and engagement in trying to find solutions for problems related to connectivity and maintenance of the equipment. Among these movements, there is the initiative of having internet access at some of the students’ homes as an alternative for the limiting conditions to capturing internet signal due to school’s location. It is also possible to identify some movements towards digital literacy, which seem to be anchored on teachers’ provoking situations so that the children can explore resources and possibilities available in the use of the laptops. Even though there was no internet connection at school, some students spontaneously become the providers of digital content, and this is welcomed and valued by their teachers. This is interpreted as a movement towards allowing these children to exercise their protagonism in the search of solutions and alternatives for the problems they had to face. With the school recently having hired a private service of wide band connection, it might be possible to think those new movements toward digital literacy and – who knows – digital emancipation may take place in the future.
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