Experiências de (des)continuidade e o vir a ser no abrigo : desdobramentos a partir da teoria de D. Winnicott

Este estudo aborda as possibilidades de vir a ser sujeito em uma instituição de acolhimento, considerando as possíveis implicações para a criança que se encontra separada de sua família de origem. Neste sentido, é importante considerarmos as diferentes questões que podem acompanhar a criança no perc...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Omizzollo, Poliana
Other Authors: Silva, Milena da Rosa
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2017
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10183/158434
Description
Summary:Este estudo aborda as possibilidades de vir a ser sujeito em uma instituição de acolhimento, considerando as possíveis implicações para a criança que se encontra separada de sua família de origem. Neste sentido, é importante considerarmos as diferentes questões que podem acompanhar a criança no percurso de sua constituição, atentando para as dificuldades que demarcam este processo, muitas vezes oriundas de falhas nas suas primeiras relações. Buscamos, então, uma compreensão acerca de como se dá a constituição subjetiva no âmbito do abrigo, utilizando para tal uma metodologia de avaliação, prevenção e promoção de saúde mental na primeira infância, que já vem sendo utilizada em outros contextos. Assim, este trabalho propôs, através dos IRDIs (Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil), a realização de uma operação de leitura da relação que se estabelece entre os bebês (de até 18 meses) e seus respectivos cuidadores (agentes educadores), que se encontram acolhidos em abrigos residenciais da Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul, no município de Porto Alegre. Nesta conjuntura, nos apoiamos nos pressupostos teóricos sustentados por Winnicott, de modo que suas contribuições nos auxiliaram a refletir sobre as possibilidades que cada bebê encontra ao se deparar privado da convivência com sua mãe/família. O processo de pesquisa abarcou diferentes momentos: I. Encontro de sensibilização e capacitação para os agentes educadores; II. Visitas a sete abrigos residências (em média quatro a cada casa), onde puderam ser observados dez bebês; III. Rodas de conversa com os agentes educadores responsáveis pelos cuidados dos bebês participantes. Assim, buscamos, a partir de conceitos fundamentais da teoria winnicottiana, apoio para refletir acerca do que se mostrou em evidência, de modo que as concepções de ambiente e de (des)continuidade dos cuidados serviram como base nesta leitura e construção de significados, o que permitiu a emergência de alguns apontamentos: Mesmo ressaltando o direito da continuidade dos cuidados que toda criança possui, a separação da mãe/família não necessariamente se faz, por si só, traumática. Isso nos conduziu a refletir acerca de que lugar ocupa o ambiente abrigo para estas crianças, tendo em vista que o fato de termos encontrado resultados satisfatórios (uns mais que outros) na leitura dos bebês a partir dos IRDIs nos permite inferir que de alguma forma este contexto opera de modo suficiente na subjetivação dos bebês. Compreendemos, portanto, que mesmo sendo portadores de uma marca primeira (privação da família de origem), existe grande possibilidade de o bebê se desenvolver plenamente, desde que possa estabelecer um encontro com alguém/ambiente disponível para sustentá-lo, para proporcionar uma experiência de continuidade e para impedir que seu sofrimento inicial impossibilite seu vir a ser. === This study approaches the possibilities of becoming a subject in a foster institution, considering the possible implications for a child who has been separated from his or her family of origin. Thus, it is important to consider the different issues that may follow the child during his or her constitution, paying attention to the difficulties that mark this process, which often originate from flaws in their first relations. This study seeks, therefore, to understand how the subjective constitution happens in a shelter environment, and uses a methodology of evaluation, prevention, and promotion of mental health in early childhood, which was already used in other contexts. Hence, this study proposed, through the use of IRDIs (Clinical Risk Indicators for Early Childhood Development), a reading operation of the relation established between babies (up to 18 months of age) and their respective caretakers (educational agents), who are hosted in the residential shelters of Foundation of Special Protection of Rio Grande do Sul, in Porto Alegre, Brazil. In this context, Winnicott’s theoretical background was used to support this study, in ways that his contributions helped on reflecting about the possibilities that each baby finds when he or she is deprived of living with his or her mother/family. The research process comprised different moments: I. Awareness and training meeting for the educational agents; II. Visits to seven residence shelters (an average of four per house), where ten babies could be observed; III. Conversation rounds with the educational agents responsible for the care of the participant babies. Hence, the fundamental concepts of the winnicottian theory were used as a support to reflect about what was evidenced, in such a way that the concepts of environment and (dis)continuity of care served as foundation in the reading and building of meanings, which allowed the emergence of some points: Even emphasizing that all children have the right to continuity of care, the separation from the mother/family is not necessarily traumatic on its own. This led us to reflect about which place the shelter environment has for these children, considering that the fact that satisfactory results (some more than others) were found in the reading of babies with the IRDIs enables us to infer that, somehow, this context operates in a sufficient way in the subjectivation of babies. It is therefore understood that even if the babies hold a first mark (deprivation of their family of origin), there is a great possibility that they go through a full development, as long as there is the establishment of an encounter with someone/environment available to support him or her, to grant an experience of continuity, and to impede that his or her initial suffering curbs their process of becoming a subject.