Summary: | O presente trabalho tem o objetivo de analisar como mudanças nos discursos sobre desenvolvimento que operam na Nicarágua afetam organizações de mulheres rurais no país. A partir de uma abordagem etnográfica, são analisadas as trajetórias e estratégias de duas organizações de mulheres que executam projetos com financiamento de agências de cooperação internacional e que mantêm relação com políticas sociais, buscando perceber como estas relações se vinculam com suas escolhas políticas. Tomo como referência a divisão em três períodos históricos do país, cada um vinculado a um macro-discruso específico sobre desenvolvimento: a Revolução Popular Sandinista na década de 1980, e a guerra que a acompanhou; os dezesseis anos do período neoliberal (1990 – 2006), que vieram acompanhados por um enorme volume de recursos de Ajuda Internacional para o Desenvolvimento (AID); e, a partir de 2007, a volta da Frente Sandinista de Liberación Nacional (FSLN) à presidência do país, marcada por sua aliança econômica com a Venezuela, e pela redução significativa de recursos de AID. O argumento é que estes macro-discursos, apesar de diferentes, se baseiam em lógicas de colonialidade/modernidade que colocam a “mulher rural” como um “outro” atrasado, que deve ser corrigido por algum tipo de desenvolvimento. No entanto, seguindo o desafio do feminismo pós-colonial, a proposta deste trabalho é desconstruir uma visão monolítica sobre “mulheres do terceiro mundo”, evidenciando as particularidades dos processos locais, apesar de compartilharem de elementos nas dinâmicas de estabelecimento de relações de poder em todos os espaços da vida. O trabalho de campo indica que elas constroem diferentes possibilidades a partir da construção de espaços exclusivos de mulheres, que se dá também em relação com discursos sobre desenvolvimento e gênero nacionais e internacionais. === This paper aims to analyze how changes in development discourses operating in Nicaragua affect rural women's organizations in the country. From an ethnographic approach, the trajectories and strategies of two women's organizations running projects with funding from donor agencies and affected by social policies are analyzed, seeking to understand how these relations are linked with their political choices. I take as reference the division into three historical periods of the country, each tied to a specific macro-discrouses on development: the Sandinista Popular Revolution in the 1980s, and the war that followed; sixteen years of the neoliberal period (1990 - 2006), which were accompanied by a huge volume ofresources from Agencies for International Development (AID); and, from 2007, the return of the Sandinista National Liberation Front (FSLN) to the presidency of the country, marked by its economic alliance with Venezuela, and the significant reduction of AID resources. The argument is that these macro-discourses, although different, are based on the logic of coloniality / modernity that put the "rural woman" as an "other" that needs to be corrected by pre-established development models. However, following the challenge of post-colonial feminism, the purpose of this paper is to deconstruct a monolithic view of "women of the third world", highlighting the particularities of local processes, even if they share dynamics of power relations in every areas of life. The field work indicates that these women build different possibilities from the creation of exclusive womens spaces, which also happens in relation to national and international development and gender discourses.
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