Qorpo-Santo : pelos (des)caminhos da loucura no Brasil do século XIX

Made available in DSpace on 2016-12-23T13:47:02Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Emanuele Luiz Proenca.pdf: 675920 bytes, checksum: 299639fb3c88cc59a7396be9e117b2eb (MD5) Previous issue date: 2012-03-14 === The relation between Qorpo-Santo and madness became the subject of this research after the incr...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Proença, Emanuele Luiz
Other Authors: Figueiredo, Túlio Alberto Martins de
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade Federal do Espírito Santo 2016
Subjects:
Online Access:http://repositorio.ufes.br/handle/10/5704
Description
Summary:Made available in DSpace on 2016-12-23T13:47:02Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Emanuele Luiz Proenca.pdf: 675920 bytes, checksum: 299639fb3c88cc59a7396be9e117b2eb (MD5) Previous issue date: 2012-03-14 === The relation between Qorpo-Santo and madness became the subject of this research after the increased interest in the story of Qorpo-Santo, who like some other important artists, was considered insane and never received recognition for his literary compositions while he was alive. He was a teacher, writer and playwright who lived in the south of Brazil during the 19th century. And he produced work that the value for the theater and literature was discovered one hundred years later. He retired from teaching, and then his wife asked for the interdiction of mental insanity. However, the lawsuit was controversial and lasted for years; the judges required that Qorpo-Santo be examined by some doctors. He was also kept in a psychiatric hospital in Rio de Janeiro to be observed by the most important doctors of that time. All of these doctors, with just one exception, stated that Qorpo-Santo´s mental health was appropriate enough so that he could take care of his own life and his possessions. However, the judge´s final decision opposed medical opinion, and Qorpo-Santo lost these rights because he was definitively interdicted. So the objectives of this research are to discuss the conceptions of madness in Brazilian society in the second half of the 19th century and understand the manufacturing of madness in Qorpo-Santo considering the characteristics of health politics and the society of that time. First, it presents a review of other studies that talk about madness in Brazil in the nineteenth century and discusses the changes that occurred in understanding madness during this period. Also, it talks about the social practices that were aimed at mad persons. At the beginning of the 19th century, the mad persons usually walked freely into theirs communities, but then madness was considered a social problem and these people were brought to the institutions. Initially, they were brought to jails or charity institutions, later they went to psychiatric hospitals that were created in several Brazilian cities. Madness became a medical subject and, step by step, medicine achieved control over this issue, although this process happened differently in several regions. When the history of Qorpo-Santo and his texts were analyzed, it was observed that his experiences with madness had occured exactly in this moment of transition in conceptions of madness and the social practices directed at it. For example, disputes between different authorities were happening for the control over fools life. But while the different powers, like family, justice and medicine, were disputing amongst themselves, Qorpo-Santo fought alone to prove that he was not a crazy and that his rights had to be preserved. His writing was the most important tool in this fight, it can be understood as the precious story of a man who resisted the actions that were trying to overwhelm him === A relação entre Qorpo-Santo e loucura tornou-se tema desta pesquisa depois de despertado o interesse pela história de Qorpo-Santo que, à semelhança de outros importantes artistas, foi considerado louco e não obteve reconhecimento em vida pela sua produção literária. Qorpo-Santo era professor, escritor e dramaturgo, viveu ao sul do Brasil no século XIX e produziu uma obra cujo valor para a literatura e o teatro descobriu-se somente cem anos mais tarde. Tido como louco por alguns membros da sociedade, o professor foi afastado das atividades no magistério e interditado judicialmente. Porém, o processo de interdição, solicitado por sua esposa, foi conturbado e controverso; em diferentes momentos, os juízes solicitaram que Qorpo-Santo fosse examinado por médicos a fim de que emitissem pareceres sobre sua sanidade mental. Foram muitos os médicos que o avaliaram, Qorpo-Santo chegou inclusive a ser encaminhado ao Hospício Pedro II no Rio de Janeiro para ser observado pelos alienistas mais influentes da época. A grande maioria destes profissionais posicionou-se pela manutenção dos direitos do examinando de gerir a própria vida e os bens, tendo em vista que gozava de saúde mental. A resolução final da justiça, contudo, contrariando a opinião destes médicos, privou Qorpo-Santo desses direitos. Definiu-se, então, como proposta para este estudo discutir as concepções de loucura vigentes na sociedade brasileira da segunda metade do século XIX e compreender o processo de fabricação da loucura em Qorpo-Santo, tendo em vista as características da sociedade e das políticas de saúde da época em que viveu. Primeiramente, a partir de uma revisão de trabalhos já publicados acerca da situação da loucura no Brasil dos oitocentos, apresentam-se as mudanças que ocorreram nesse período na forma como era entendida a loucura e com relação às práticas sociais que lhe eram dirigidas. De uma realidade na qual os loucos costumavam compor o cotidiano das cidades, passou-se para um contexto em que a loucura começava a ser vista como um problema social e era enviada com frequencia cada vez maior para as instituições; inicialmente, para as instituições de caridade ou para as cadeias públicas e, depois, para os hospícios que se espalharam pelo território nacional. A loucura acabou se tornando objeto da medicina que, pouco a pouco, alcançou hegemonia sobre esta problemática, embora esse processo tenha ocorrido de forma distinta nas diferentes regiões do País. Ao analisar a história de Qorpo-Santo e seus textos, percebeu-se que suas experiências com relação à loucura se deram justamente nesse momento de transição no que dizia respeito às concepções de loucura e das ações que se constituíam destinadas a este público. Havia, por exemplo, disputas entre as diferentes autoridades que procuravam se legitimar na definição dos destinos dos loucos. Num embate entre diferentes poderes, tais como a família, a justiça e a medicina, Qorpo-Santo acabou isolado na sua luta para demonstrar que não era louco e que não merecia ser usurpado de seus direitos. Sua escrita foi o principal instrumento nesse enfrentamento; pode-se compreendê-la como precioso relato de um sujeito que resistiu às ações que insistiam em lhe sobrepujar