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Previous issue date: 2009-05-05 === Em 361 d.C., o imperador Juliano assumiu a púrpura imperial e declarou publicamente sua opção pelo sistema de crenças do paganismo, que, nesse momento, estava sofrendo um processo de franco esvaziamento de prestígio devido à ascensão da religião cristã e à atuação de Constantino e Constâncio II. Como, no Baixo Império Romano, a opção religiosa do imperador implicava não apenas uma escolha de caráter pessoal, mas também política, a tentativa de Juliano de restabelecer o paganismo como a crença que estaria na base do poder imperial implicava também a rejeição da basileia, realeza helenístico-cristã que então se consolidava. Por isso, Juliano necessitava de um novo pensamento político que legitimasse sua autoridade diante da sociedade romana mediante a associação com os preceitos da religião pagã. Nesse sentido, convocou os filósofos neoplatônicos a residir na corte para auxiliá-lo nessa tarefa, pois eles haviam se convertido, em um processo de reformulação identitária, ao longo do século IV, em homens divinos, porta-vozes do paganismo. Assim, no papel de representantes de um sistema religioso que estava sendo deturpado para que, dessa forma, o cristianismo se consolidasse como o único detentor legítimo dos bens de salvação, elaboraram uma série de estratégias de enfrentamento para se contrapor a esse processo, que pudemos identificar por meio da obra A vida dos Sofistas, de Eunápio de Sárdis, que biografa a vida desses filósofos, convertidos em theioi andrés. Assistimos, dessa forma, a uma luta de representações, entre duas religiões, a pagã e a cristã pelo monopólio do campo do sagrado. No contexto desse embate cultural, uma das estratégias de enfrentamento elaborada pelo paganismo foi a elaboração de uma filosofia política, que foi adotada por Juliano logo no início de seu governo. A fim de identificar essa concepção teórica de poder, recorremos às Cartas e a uma sátira, denominada Misopogon, que o imperador escreveu na cidade de Antioquia, enquanto se preparava para uma expedição militar contra os persas, a mesma na qual veio a falecer, em 363.
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