Summary: | Orientadora : Profª Drª Norma da Luz Ferrarini === Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Defesa: Curitiba, 09/02/2017 === Inclui referências : p. 121-125 === Resumo: Após as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, algumas pesquisas apontam para uma espécie de crise da masculinidade no contexto contemporâneo, caracterizada por insegurança e confusão por parte dos homens. Neste cenário desconcertante, podemos nos indagar como as crianças, em especial, têm sido impactadas. Para abordar este problema, realizou-se uma pesquisa com o objetivo de investigar o impacto das novas configurações de masculinidade na subjetividade infantil. Foi conduzida uma revisão bibliográfica das transformações históricas da masculinidade e uma investigação empírica, tendo como base a epistemologia qualitativa e a perspectiva histórico-cultural. Foram entrevistados 10 meninos e 5 meninas (de 6 a 11 anos), 8 profissionais da educação e 4 pais de alunos, todos vinculados a uma escola pública da região de Curitiba. Como resultados, encontrouse alguns aspectos importantes: 1) Visão negativa do sexo masculino: há um medo disseminado do masculino em função da associação com parâmetros negativos da sociedade, especialmente com a criminalidade; na infância, há um discurso depreciativo em relação aos meninos, que são descritos predominantemente como portadores de defeitos: difíceis, sem limites, agitados, violentos, imaturos, irresponsáveis, relaxados; 2) Carência de modelos concretos de identificação: parece que figuras masculinas concretas (pais, avôs, tios e professores) estão se tornando cada vez mais ausentes da vida dos meninos, que têm pouco contato com homens adultos na família e na escola; 3) Empobrecimento das representações sociais: no âmbito social, são pobres as representações masculinas moralmente positivas (cientistas, empresários, políticos, líderes, ativistas...), ao mesmo tempo em que transbordam na mídia modelos de masculinidade que se restringem ao homem consumidor, hedonista, impulsivo e/ou violento e arrogante; 4) Ausência de projetos de vida: sem apoio e referências para a construção de sonhos singulares e projetos de inserção social, os sonhos e desejos dos meninos parecem estar extremamente atrelados ao projeto consumista da sociedade contemporânea. 5) Desaparecimento dos códigos de honra: não há mais um código de honra socialmente compartilhado pelos homens, fazendo com que os meninos fiquem sem parâmetros morais para construir sua personalidade. Neste cenário, percebemos que certas características da masculinidade tradicional (como a violência e a ausência na vida doméstica) têm se conservado, ao mesmo tempo em que os parâmetros morais têm sido relegados ao esquecimento. Os indicadores, portanto, sugerem que a crise da masculinidade é essencialmente moral. Ou seja, se por um lado as mudanças históricas na sociedade libertam o homem de certas amarras subjetivas (como homem não chora), por outro lado acabam por aprisioná-lo numa subjetividade padronizada e moralmente esvaziada, com aparência de liberdade. Na ausência de modelos sociais positivos de masculinidade e referências afetivas próximas, configura-se uma verdadeira lacuna moral na educação dos meninos, entendida aqui como a ausência de um projeto ético de vida amparado por um código de honra. Esta lacuna acaba sendo preenchida pelas referências dominantes de masculinidade da cultura contemporânea, notadamente pelos homenscelebridade da mídia, que é uma das instâncias mais presentes na vida das crianças, influenciando fortemente os meninos na construção dos seus sentidos subjetivos de masculinidade. Este quadro social remete à necessidade fundamental de ressignificar a masculinidade no processo educativo, proporcionando espaços de diálogo e modelos de identificação diversificados e positivos para os meninos, que deem suporte para a construção de projetos de vida ancorados pela ética e estimulem o desenvolvimento de uma consciência crítica, que auxilie o homem a ser um agente ativo na transformação social. Palavras-chave: Educação, ética, infância, masculinidade, subjetividade. === Abstract: After the many social changes that have taken place in the last decades, some researches show a sort of masculinity crisis in the contemporary context, characterized by insecurity and confusion among men. In this confusing scenario, we can ask ourselves how the kids in particular are being affected. To investigate this issue, a research was carried out with the purpose of investigate the impact of the new masculinity settings on the infant's subjectivity. The first step was a literature review of historical changes in masculinity, followed by an empirical research, based on the qualitative epistemology and historical-cultural perspective. Ten boys and five girls have been interviewed (from 6 to 11 years-old), 8 education professionals and 4 parents of students, all linked to a public school in the region of Curitiba. As a result, the following aspects were found: 1) Negative male representation: there is a widespread fear of masculinity due to the association with negative social parameters, particularly with regard to criminality; we could observe, both among adults and the kids themselves, a derogatory speech towards boys, who are primarily described as defective: hard to handle, boundless, agitated, violent, immature, irresponsible and sloppy; 2) Lack of role models: it seems that concrete male figures (fathers, grandfathers, uncles and teachers) are increasingly more absent in the lives of boys, who have very little contact with grown-up men in their families or at school; 3) Impoverishment of social representations: in the social environment, there are not many morally positive male roles (scientists, businessmen, politicians, leaders, activists...), while the media spreads an idea of masculinity that reduces men to arrogant, violent, impulsive, hedonistic consumers; 4 Absence of life goals: without support and references for the construction of unique dreams and social interaction projects, the dreams and desires of boys seem to be deeply connected to the consumerist project of the contemporary society; 5) Disappearance of codes of honor: there is not a code of honor socially shared by men, which leaves boys without moral parameters onto which they could build their personality. In this scenario, we notice that certain characteristics of the traditional masculinity (such as violence and absence in the home life) are being carried on, while moral parameters have fallen into oblivion. Indicators, however, suggest that the masculinity crisis is primarily moral. That is, if, on one hand the historical social changes release the men from certain subjective ties (such as "men don't cry"), on the other hand, they end up imprisoning them in a freedom-like, standardized and morally empty subjectivity. The lack of social role models of masculinity and close affective references open room for a true moral gap in the education of boys, understood here as the absence of an ethical life project supported by a code of honor. This gaps ends up being filled by dominant male references of the contemporary culture, notably by media male celebrities, which are one of the major influences in the kids' lives, deeply affecting boys in the construction of their subjective senses of masculinity. This social framework indicates the critical need of providing a new meaning to masculinity in the educational process, creating space for dialogue and multiple role models for boys, which could support the construction of life projects based on ethics, stimulating the development of a critical conscience, which could help men to become active agents in the social changes to come. Key-words: childhood, education, ethics, masculinity, subjectivity.
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