Summary: | Orientador: Profª Drª Marlene Tamanini === Tese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Defesa: Curitiba, 18/04/2017 === Inclui referências === Resumo: A maternidade é alvo frequente de estratégias e normatizações, que vão se delinear a depender do tempo e do período, imbricada em temas como a moral, a ciência e a religiosidade, que, por sua vez, também se interpelam ou se coadunam. Tais relações irão refletir nas experiências das mulheres e em sua autonomia no exercício da maternidade, mediando seus desejos e escolhas e modificando ou limitando suas possibilidades nas tomadas de decisão. Este trabalho tem como foco pensar a experiência da maternidade, incluindo as implicações de suas posições e investimentos particulares a partir do seu vivido, e as influências das práticas biomédicas e políticas relativas ao cuidado e ao aleitamento materno, segundo as inserções das mães nas relações sociais e discursos médicos, e o que se move e o que se faz a partir destas interdependências. É um tema de relevância para a compreensão de processos que são políticos e também constitutivos da subjetividade das mulheres, das suas escolhas e possibilidades e ou conflitos sobre ser mulher, ser mãe, trabalhar e dar conta de nutrir bebês. O objetivo geral é compreender como é a experiência da mulher mãe frente ao aleitamento materno em face a sua vida e ao discurso médico-científico sobre o ideal da amamentação. Trata-se de um estudo de base qualitativa, com perspectiva de gênero, de base hermenêutica, logo interpretativo, realizado a partir de entrevistas em profundidade com 12 mulheres, mães de crianças entre seis meses e dois anos de idade. As mulheres que auxiliaram na construção desta pesquisa foram acessadas a partir de Unidades Básicas de Saúde participantes da Estratégia Saúde da Família, e foram entrevistadas em seus domicílios, sobre suas experiências com gestação, parto, aleitamento materno e cuidado de crianças pequenas. As mães participantes eram donas de casa, trabalhadoras formais e informais; com um e mais filhos e filhas; casadas, solteiras e separadas; compreendendo desta forma diversas situações e experiências de maternagem. Além disso, conversas com Agentes Comunitárias de Saúde auxiliaram na construção do campo de pesquisa, em que se visibilizou a discrepância de discursos, retratando a complexidade dos processos de negociações contínuas, das pressões externas e resistências internas. Das conversas com as 12 entrevistadas emergiram categorias de análise que foram organizadas em dois grandes temas: 1) Aleitamento Materno e Cuidado: Experiências, Necessidades e Urgências (que trata das falas sobre aleitamento materno, suas relações e conflitos, a maternidade como lugar na família e o aleitamento materno como sentimento); e 2) O Trabalho do Cuidado e as Relações de Gênero (que abarca o cuidado de crianças, as redes de solidariedade e a divisão sexual do trabalho do cuidado). Em relação ao aleitamento materno, as mulheres entrevistadas demonstram uma valorização do discurso médico institucionalizado e não necessariamente uma discordância no fundamento do que é recebido como aconselhamento vindo da teoria médica. A prática, no entanto, baseia-se na experiência, que tem várias formas de conjugar o vivido com as novidades aprendidas pela teoria. As trocas de experiência fazem parte das relações destas mulheres, com suas mães, tias, irmãs e filhas. Elas também possuem suas representações prévias, suas próprias experiências e a individualidade da criança, formando arranjos para o aleitamento materno que geram um caleidoscópio de possibilidades, gerenciados de acordo com as condições, necessidades, saberes e empoderamento de cada mulher. A decisão por uma prática ou outra varia com a fluidez das interdependências, e o que precisa ser acionado a cada momento, dada a situação. Em relação ao trabalho do cuidado e as relações de gênero, vemos que o lugar de mãe é valorizado socialmente, inclusive pelas mulheres entrevistadas, e a maternidade relacionada com a mulher e o papel esperado para ela. Na família, o cuidado é visto como uma atividade das mulheres, que se unem, se revezam e se ajudam nesta tarefa. Foram citadas prioritariamente as mães como fonte de ajuda, mas também tias, irmãs, sogras, primas, filhas mais velhas, vizinhas e amigas. As mulheres são as mais responsabilizadas pelo cuidar, e por isso, as mais afetadas pela desvalorização social do trabalho do cuidado. As relações que se fazem socialmente e que demarcam o trabalho do cuidado fazem deste um trabalho gendrificado, baseado na responsabilização diferenciada de homens e mulheres, com prejuízos sociais e democráticos para as últimas. As soluções nas menores esferas de relação, a família, engendram a necessidade da instauração de uma rede de solidariedade de cuidado da criança, que se forma quase que exclusivamente por mulheres. Esta estrutura diminui as possibilidades de mulheres, desde jovens, na busca por educação e emprego, limitando seu leque de escolhas na vida, e sua autonomia. Palavras-chave: Experiência; maternidade, cuidado, aleitamento materno; autonomia; políticas públicas. === Abstract: Motherhood is a constant target of strategies and standards, that will be outlined depending on the age and period, tangled in themes like morality, science and religiosity, which, in turn, query and coadunate one with another. Such relationships will reflect on the experiences of women and their autonomy in the exercise of motherhood, mediating their desires and choices and modifying or limiting their possibilities in decision making. This work aims to think about the experience of motherhood, including the implications of its positions and particular investments from the experience itself, and the influences of biomedical and political practices related to care and breastfeeding, according to the insertions of mothers in social relations and medical discourses, and what moves and what is done from these interdependencies. It is a relevant subject for the understanding of processes that are political and also constitutive of women subjectivity, their choices and possibilities and or conflicts about being a woman, being a mother, working and nursing. The general objective is to comprehend how the mother-woman's experience with breastfeeding is, concerning her life and the medical-scientific discourse on the ideal of breastfeeding. This is a qualitative study, with a gender perspective and an hermeneutical basis, therefore, it is interpretive, based on in-depth interviews with 12 women, mothers of children between six months and two years old. The women who assisted in the construction of this research were reached from the Basic Health Units part of the Family Health Strategy, and they were interviewed in their homes about their experiences with pregnancy, childbirth, breastfeeding and caring of young children. The attending mothers were housewives, formal and informal workers; with one and more sons and daughters; married, single and divorced; constituting in this way many situations and experiences of mothering. In addition, conversations with Community Health Agents assisted in the construction of the research field, in which the discourse discrepancy became visible, portraying the complexity of the processes of continuous negotiations, external pressures and internal resistances. From the conversations with the 12 respondents emerged categories of analysis that were organized into two main themes: 1) Breastfeeding and Care: Experiences, Needs and Urgencies (that deals with the talks about breastfeeding, its relationships and conflicts, motherhood as a place in the family and breastfeeding as a feeling); and 2) The Work of Care and Gender Relations (which includes child care, solidarity networks and the sexual division of the work of care). Regarding breastfeeding, the women who were interviewed demonstrate an appreciation for the institutionalized medical discourse and not necessarily a disagreement on what is received as advice from the medical theory. The practice, however, is based on experience, which has several ways of combining the experiences lived with the news learned by the theory. The exchanges of experience are part of these women's relationships with their mothers, aunts, sisters and daughters. They also have their previous representations, their own experiences and the individuality of the child, forming arrangements for breastfeeding that create a kaleidoscope of possibilities, managed according to the conditions, needs, knowledge and empowerment of each woman. The decision for one practice or another varies with the fluidity of interdependencies, and what needs to be triggered at each moment, depending on the situation. In relation to the work of care and gender relations, we see that the mother's place is socially valued, even by the women interviewed, and the motherhood related to the woman and the role expected for her. In the family, the caring is seen as an activity of women, who get united, take turns and help each other in this task. Mothers were mentioned primarily as a source of help, but also aunts, sisters, mothers-in-law, cousins, older daughters, neighbors and friends. Women are the most responsible ones for caring, and consequently, the most affected ones by the social depreciation of the work of care. The relationships that are socially established and that demarcate the work of care make this a gender-grounded work, based on the differentiated responsibility of men and women, with social and democratic damages for the latter. Solutions in the smallest spheres of relationship, the family, generate the need to establish a solidarity network of child caring, which is almost formed exclusively by women. This structure diminishes the possibilities of women, since their youth, in the search for education and employment, limiting their range of choices in life, and their autonomy. Keywords: Experience; motherhood, caring, breastfeeding; autonomy; public policies.
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