Summary: | Resumo: A articulação entre inconsciente e linguagem, manifesta em Freud, é retomada por Lacan com o intuito de situar o devido lugar da linguagem em sua relação com o inconsciente, uma vez que o movimento psicanalítico posterior a Freud deturpa a leitura do inconsciente de modo a situá-lo num campo psicologizante, subjetivado. Esta é a denúncia feita por Lacan: inconsciente e verdade foram lançados pelos psicanalistas como mais um destes conceitos que parecem estar tão atrelados ao seu sentido e que ficam fora de questão, pressupõem quase que instantaneamente um entendimento, uma compreensão atrelada ao próprio conceito. Consequentemente Lacan denuncia os desvios dos psicanalistas da própria Psicanálise, na medida em que se aproximam mais de uma psicologia do inconsciente, como uma prática voltada para o fortalecimento do eu, do que de fato para uma prática que tem como vértice a ética do desejo, tomado como efeito da articulação da cadeia significante da linguagem, tal como a proposição freudiana a ser resgatada por Lacan. Com esta perspectiva temos que o retorno a Freud proposto por Lacan não diz respeito a uma releitura de Freud, mas sim diz de um retorno aos fundamentos éticos da Psicanálise. Nesse retorno Lacan irá resituar a dimensão ética do desejo na experiência psicanalítica e na noção de sujeito, problematizando a 'dualidade' sujeito/objeto. Por esta via, o sujeito não é causa, mas sim, efeito, causado pelo objeto do desejo e determinado pela linguagem. A noção de sujeito coloca para Lacan a questão do saber enquanto inconsciente, e da verdade enquanto efeito do dizer, como veremos ao investigar os fundamentos do sujeito lacaniano, desde sua referência fenomenológica, quando Lacan recorre principalmente a Hegel, via Kojève, para pensar a constituição do sujeito; passando por Lévi-Strauss que, com a antropologia estrutural, irá possibilitar a aceitação da noção de inconsciente e de um sujeito do inconsciente determinado estruturalmente; até a proposição da subversão do sujeito, em que Lacan pode articular com precisão que o sujeito na Psicanálise é desde o princípio, com Freud, tomado em sua subversão, no que tange um sujeito determinado pelo real da pulsão e pelo simbólico da linguagem, e tendo o desejo como via de expressão. Destes três momentos marcadamente influenciados por distintos referenciais, que serão recortados por textos centrais do período, poderemos verificar os fundamentos filosóficos e clínicos que orientam Lacan a sustentar sua questão sobre o conhecimento e o sujeito naquilo que foge às perspectivas clássicas e positivas. Ou seja, pensar o conhecimento e o sujeito pela via da negatividade - encontrada já em Kojève e sustentada com algumas modificações durante o desenvolvimento de sua pesquisa, via esta que veicula o conhecimento ao saber e o sujeito ao desejo.
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