Summary: | === This dissertation aims to expose certain principles for clinical psychoanalysis of paranoia, specifically regarding the maneuver of transference. We begin presenting a clinical case followed in a psychiatric ambulatory, whose paranoia diagnosis was drawn with some certainty, but whose maneuver required clarification regarding the functioning of the psychic structure in question. Therefore, the first chapter explicits paranoias clinical manifestation, using Freuds and Lacans theories on the subject. Afterwards, we analyze the phenomenon of transference, establishing how it occurs in neurosis and its particularities in paranoiac psychosis. Using the bibliography on this theme and also some fragments on the analysts position in such treatments, we trace the maneuver possibilities, in which the analyst answers the structure trying to avoid a position that serves to increment the patients delirium. The maneuver consists in keep the link without letting the analyst become the representation of an Other who aims at the subject. We observe the inflation of the imaginary as result of a surge and we attribute its condition of occurrence to a lack in the symbolical. The intention of someone who starts to follow the subject, or to love him/her and to search for him/her, is understood as an incarnation of the Others demand for enjoyment, of which the paranoid subject becomes the object. That is what characterizes the eruption of the real, sometimes leading the patients to look for treatment. We establish that one of its aims is to rectify the Other in a way that the subject starts do deal with a new symbolical reference, contributing to his/her identification in this relation. The hypothesis that takes us to the third chapter passes by this localization of the subject in front of the Other, which allows a form of stabilization and possibly an insertion in the social bonds. We observe that the turnouts guided by the imaginary not always allow a long lasting solution for the subjects. That is why the treatment functions as a tool for this decompensation by showing itself as a space for the subject to address his/her particular solutions, sometimes more or less stable, depending on each case. Lacanian theory is our reference, which we use not only as a parameter for the present work, but also as a guide for the treatment realized at the ambulatory. The bibliography used goes beyond psychoanalysis classic references, passing by authors of lacanian orientation who have clinical experience with paranoia - a field in which we found many published works. In the end of the dissertation, we approach the mode of treatment of psychosis referenced by a mental health institution, whose model has consolidated itself presently, comparing its functioning with the introduction of a new figure of the Other that gives space for the solution of each paranoiac subject. The bid we make is that the psychoanalytical treatment of psychosis, with adequate transference maneuver, allows some stabilization for a determined subject. === Esta dissertação tem o objetivo de expor alguns princípios para a clínica psicanalítica da paranoia, notadamente no que se refere ao manejo da transferência. Começamos apresentando um caso clínico acompanhado em um ambulatório de psiquiatria, cujo diagnóstico de paranoia foi delimitado com alguma certeza, mas seu manejo exigiu esclarecimentos sobre o funcionamento da estrutura psíquica em questão. Por isso o primeiro capítulo é destinado à explicitação da manifestação clínica da paranoia, com a utilização da teoria estabelecida por Freud e por Lacan sobre a mesma. Em seguida analisamos o fenômeno da transferência, delimitando primeiramente como ela ocorre na neurose, e depois suas particularidades na psicose paranoica. A partir da bibliografia sobre esse tema, utilizando também alguns fragmentos sobre a postura do analista em tais tratamentos, traçamos as possibilidades de manejo, no qual o analista responde à estrutura tentando se esquivar de uma posição que sirva para incrementar o delírio do paciente. O manejo consiste em permitir a manutenção do vínculo, sem que o analista passe a representar um Outro que vise o sujeito. Observamos a inflação do imaginário decorrente de um surto e atribuímos sua condição de ocorrência a uma falta no simbólico. A intenção de alguém que passa a perseguir o sujeito, ou ainda amá-lo e procurá-lo por isso, é entendida como uma encarnação da exigência de gozo do Outro, do qual o sujeito paranoico passa a ser o objeto. É o que caracteriza a irrupção do real, levando por vezes o paciente à procura de tratamento. Estabelecemos assim que um objetivo deste é a retificação do Outro, de modo que o sujeito passe a lidar com uma nova referência simbólica que contribua para sua identificação nesta relação. A hipótese que nos conduz ao terceiro capítulo passa por essa localização do sujeito perante o Outro, o que permite uma forma de estabilização e possivelmente uma inserção no laço social. Observamos que as saídas guiadas pelo imaginário nem sempre permitem uma solução duradoura para os sujeitos. É por isso que o tratamento funciona como uma ferramenta para esta descompensação, ao se mostrar como um espaço de endereçamento do sujeito para suas soluções particulares, às vezes mais ou menos estáveis, dependendo de cada caso. A teoria lacaniana é o nosso referencial, que utilizamos não só como parâmetro para o presente trabalho, mas também como guia para o atendimento realizado no ambulatório. A bibliografia utilizada vai além das referências clássicas da psicanálise, passando por autores de orientação lacaniana que têm experiência clínica com a paranoia campo em que encontramos vários trabalhos publicados. Ao final da dissertação abordamos o modo de tratamento da psicose referenciado por uma instituição de saúde mental, cujo modelo tem se consolidado atualmente, comparando este funcionamento com a instauração de uma nova figura do Outro que dê espaço para a solução de cada sujeito paranoico. A aposta que fazemos é a de o tratamento psicanalítico da psicose, com adequado manejo da transferência, permitir alguma estabilização para um determinado sujeito.
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