Summary: | === O trabalho teve como objetivo (re)construir o público leitor/ouvinte e os modos de er/ouvir literatura de cordel, entre 1930 e 1950, em Pernambuco. Na pesquisa, foram utilizadas como principais fontes entrevistas, autobiografias, romances, os próprios folhetos e outros documentos. As fontes coletadas foram sendo cruzadas ao longo da pesquisa, a partir de determinadas categorias, algumas das quais definidas a priori (como as de gênero, classe, raça/etnia e geração) e outras emergentes do contato com o próprio material empírico ou com a bibliografia sobre o tema (como as de popular, Nordeste, urbano e rural, oral e escrito). Os estudos sobre história cultural e da leitura, as discussões em torno da cultura popular, as pesquisas que se detêm sobre a relação entre oralidade e letramento e os trabalhos referentes à "história" oral nortearam, teórica e metodologicamente, a investigação. O trabalho está dividido em duas partes. Na primeira, composta de dois capítulos, são identificados indícios de quem era o eitor/ouvinte visado pelos autores/editores de folhetos, a partir, principalmente, da análise dos próprios cordéis: texto e objeto material. O texto de um dos folhetos analisados é comparado, ainda, com notícias veiculadas em jornais da época sobre o mesmo assunto nele tratado. Na segunda parte da tese, composta de cinco capítulos, busca-se uma aproximação do leitor empírico, caracterizando-o e reconstruindo as formas de acesso que tinha aos folhetos, as situações de leitura/audição desses mpressos e os papéis atribuídos à sua leitura e/ou audição. A pesquisa mostrou que o público a que os folhetos se destinavam não foi, em princípio, popular. A análise dos mpressos mostra que, dirigida, inicialmente, sobretudo às camadas médias, aos poucos, principalmente a partir dos anos 30, a literatura de folhetos tornou-se um impresso de arga circulação: passou a se destinar, assim, a um público pouco exigente e pouco habituado ao universo letrado, formado, em sua maioria, pelas camadas populares urbanas, por pessoas analfabetas ou com um grau restrito de escolarização. A análise dos textos dos folhetos, por sua vez, revela que eles estão impregnados de marcas de oralidade e que os caminhos narrativos escolhidos pelos poetas para narrar as histórias podem ser considerados bastante previsíveis, exigindo poucos esforços do suposto leitor para proceder à sua compreensão. Nas cidades, o público, composto em sua maioria de pessoas analfabetas ou semi-alfabetizadas, ao conviver com outros aspectos da cultura escrita, revelava, em menor ou maior grau, um contato com uma diversidade de tipos de mpressos, em muitos casos também compartilhados por outros grupos sociais. É ambém a partir dos anos 30 que o público parece se ruralizar: para os leitores/ouvintes das pequenas comunidades rurais e cidades do interior do Estado, os folhetos constituíam a principal, senão a única, mediação entre eles e o mundo da leitura, da escrita e do impresso. Comprados ou tomados de empréstimo, os folhetos eram lidos pelo vendedor ainda nas feiras e, posteriormente, em reuniões coletivas, onde ocorriam, em muitos casos, narrações de contos e cantorias. Os poemas eram lidos, principalmente, de maneira intensiva e a memorização, facilitada pela própria estrutura narrativa e formal dos poemas, era considerada, pelos leitores/ouvintes, fundamental nos processos de apropriação das leituras. Os papéis atribuídos à leitura/audição de folhetos não pareciam restritos às disposições pragmáticas dessa prática: a dimensão estética era fundamental no processo de fruição do objeto lido/ouvido. A pesquisa mostrou que as formas de leitura geradas pelos impressos e/ou pelos textos dos poemas não coincidiam, necessariamente, com os usos e as apropriações que os leitores/ouvintes empíricos deles faziam.
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