Summary: | === Introdução. As taxas de realização de necropsias hospitalares diminuíram em todo o mundo, tendo chegado a níveis criticamente baixos no HC-UFMG, particularmente em relação a procedimentos em adultos e pacientes pediátricos. Entre as causas aventadas para tal declínio, menciona-se com freqüência que o desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas ocorrido nas últimas décadas teria diminuído a necessidade de necropsia. A influência de atitudes desfavoráveis dos médicos em relação ao procedimento também é considerada.
Objetivos. Avaliar se os avanços tecnológicos empregados atualmente na prática clínica diminuíram a necessidade de necropsia no HC-UFMG. Através de estudo de correlação anatomoclínica, determinar as taxas de discordância entre diagnósticos clínicos e necroscópicos em duas épocas. Avaliar a atitude dos médicos da instituição em relação à necropsia.
Materiais e métodos. Procedeu-se a correlação anatomoclínica entre diagnósticos clínicos e necroscópicos em amostras aleatoriamente selecionadas de 80 necropsias realizadas em pacientes do HC-UFMG realizadas na década de 70 e 80 necropsias realizadas na década de 90. O grau de discordância entre os diagnósticos foi qualificado em total, parcial ou ausente e suas taxas de ocorrência comparadas nas duas épocas. Um questionário foi aleatoriamente distribuído entre médicos do HC-UFMG, abordando as atitudes dos profissionais em relação à necropsia.
Resultados. Houve predomínio absoluto de necropsias pediátricas e de adultos na amostra referente à década de 70, com apenas três casos de necropsias perinatais. Estas predominaram na década de 90, com taxa de discordância de 56%, com maior freqüência de discordâncias parciais e maior ocorrência de malformações congênitas, parcialmente identificadas em vida. A correlação anatomoclínica revelou concordância completa entre diagnósticos clínicos e necroscópicos na maior parte das necropsias pediátricas da amostra referente à década de 70, o inverso ocorrendo na amostra referente à década de 90. As taxas de discordância diagnóstica não apresentaram alterações significativas de uma época para a outra em relação às necropsias de adultos: 68% na década de 70 e 57% na década de 90. Infecções bacterianas e tromboembolismo pulmonar foram condições não diagnosticadas clinicamente que predominaram na amostra referente à década de 70; na década de 90, os diagnósticos necroscópicos não formulados em vida formaram grupo mais heterogêneo de doenças. A análise das respostas ao questionário revelou predomínio de atitude favorável em relação à necropsia entre os médicos do HC-UFMG, tendo sido manifestadas com freqüência dificuldades em relação à abordagem das famílias de pacientes falecidos para solicitar autorização de necropsia.
Conclusões. Não houve modificação ao longo do tempo da utilidade da necropsia no HC-UFMG, a despeito de sua restrita utilização na atualidade. Sua prática necessita de incentivo e revitalização para que se minimizem os efeitos deletérios da ausência de necropsias pediátricas e de adultos sobre o ensino médico, a pesquisa e o controle de qualidade da assistência prestada na instituição.
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