Cultura Escrita e Autoridade Lingüística: as estratégias de monitoramento em textos jornalísticos
=== O processo de construção de uma autoridade lingüística é inerente ao processo de formação de uma cultura escrita. O resultado desse vínculo é a criação de uma ilusão de homogeneidade (Jaffe,2000). Entretanto, a tendência padronizadora não anula a disputa entre formas consideradas mais inovadora...
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Universidade Federal de Minas Gerais
2008
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Online Access: | http://hdl.handle.net/1843/DAJR-88QJU3 |
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=== O processo de construção de uma autoridade lingüística é inerente ao processo de formação de uma cultura escrita. O resultado desse vínculo é a criação de uma ilusão de homogeneidade (Jaffe,2000). Entretanto, a tendência padronizadora não anula a disputa entre formas consideradas mais inovadoras ou mais conservadoras, exatamente porque a língua escrita é sensível à variação e, portanto, a diversidade é uma característica também constitutiva da modalidade escrita. Na análise de um veículo de comunicação impressa prestigiado na comunidade letrada brasileira, o jornal Folha de S.Paulo, constatou-se a força padronizadora em inserções apresentadas entre parênteses. Em um primeiro momento, destacam-se aquelas inserções que sedimentam uma visão de língua e estabelecem um padrão de correção; a presença do sic é um forte indício de um julgamento lingüístico. Em um segundo momento, destacam-se aquelas inserções que resolvem potenciais ambigüidades, encaminham uma leitura preferencial e, portanto, estabelecem um padrão de interpretação. A primeira parte deste estudo pretende comprovar as diferentes possibilidades de uso de um sistema de escrita, especificando alguns dos fatores que favorecem a emergência da diversidade como fator constitutivo da língua escrita. Alguns exemplos de situação de uso da escrita são confrontados com o objetivo de mostrar os diferentes efeitos argumentativos e, portanto, caracterizar uma possível etnografia da língua escrita que ressalta as relações entre as opções lingüísticas e os usos sociais e formam, portanto, uma cultura escrita em que entram em jogo valores sociais e políticos, o que reforça uma abordagem sociolingüística para a análise.
A segunda parte descreve as avaliações que, implícita ou explicitamente, instituem o processo de normatização. O processo de normatização verificado na língua escrita não envolve apenas os aspectos relacionados ao código. Existem marcas escritas que indicam procedimentos discursivos sofisticados, revelando estratégias argumentativas que exigem níveis de compreensão menos lineares. Um caso específico dessas marcas é o sic que sinaliza, sob o ponto de vista do autor, a localização de uma improcedência. A presença do sic é um forte indicador de um julgamento autoral e reflete uma imagem de
correção conceitual e formal que estabelece, na língua escrita, uma espécie de controle interacional (Fairclough, 2001). Construiu-se uma taxonomia das ocorrências do sic, na tentativa de especificar quais componentes gramaticais são avaliados com mais freqüência e quais formas lingüísticas possuem maior visibilidade no processo de
identificação de problemas lingüísticos. Comprova-se que a aplicação de uma norma lingüística que baliza a concepção de erro está subordinada ao projeto retórico do texto, o que significa que a maior ou menor tolerância em relação aos desvios subordina-se ao grau de simpatia projetado para aqueles que são retratados, principalmente quando são usadas estratégias de transcrição desnaturalizada (Bucholtz, 2000). A variação dos critérios de julgamento entre os usuários indica que a própria construção de um padrão normativo é o resultado de uma constante tensão entre a tradição e a inovação, o que
produz expectativas de correção que são indicadoras de que, para uma comunidade letrada, o debate lingüístico público é, na verdade, um dos fatores de promoção da aceitação de padrões de correção (Milroy & Milroy, 1999). A terceira parte caracteriza um recurso de explicitação que, através da apresentação do elemento 'referido' entre parênteses, pretende indicar complementações semânticas ligadas à resolução pronominal. Demonstra-se que esse processo de explicitação
também é governado por um projeto retórico que tenta monitorar as possibilidades interpretativas, desde a indicação da forma considerada ambígua até a escolha da informação que soluciona o eventual problema. Nesse movimento de explicitação são encontrados argumentos que reforçam o postulado de que o processo de referenciação trabalha com objetos do discurso (Clark,1996; Cornish, 1999; Koch, 2001; Marcuschi, 2001) e contribui para o processo de padronização, já que formas lingüísticas são apontadas como problemáticas e, portanto, consideradas merecedoras de
monitoramento. |
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ndltd-IBICT-oai-bibliotecadigital.ufmg.br-MTD2BR-DAJR-88QJU32019-01-21T18:03:43Z Cultura Escrita e Autoridade Lingüística: as estratégias de monitoramento em textos jornalísticos Gilcinei Teodoro Carvalho Marco Antonio de Oliveira Sírio Possenti Milton do Nascimento Maria da Graca Ferreira da Costa Val Luiz Francisco Dias Carla Viana Coscarelli O processo de construção de uma autoridade lingüística é inerente ao processo de formação de uma cultura escrita. O resultado desse vínculo é a criação de uma ilusão de homogeneidade (Jaffe,2000). Entretanto, a tendência padronizadora não anula a disputa entre formas consideradas mais inovadoras ou mais conservadoras, exatamente porque a língua escrita é sensível à variação e, portanto, a diversidade é uma característica também constitutiva da modalidade escrita. Na análise de um veículo de comunicação impressa prestigiado na comunidade letrada brasileira, o jornal Folha de S.Paulo, constatou-se a força padronizadora em inserções apresentadas entre parênteses. Em um primeiro momento, destacam-se aquelas inserções que sedimentam uma visão de língua e estabelecem um padrão de correção; a presença do sic é um forte indício de um julgamento lingüístico. Em um segundo momento, destacam-se aquelas inserções que resolvem potenciais ambigüidades, encaminham uma leitura preferencial e, portanto, estabelecem um padrão de interpretação. A primeira parte deste estudo pretende comprovar as diferentes possibilidades de uso de um sistema de escrita, especificando alguns dos fatores que favorecem a emergência da diversidade como fator constitutivo da língua escrita. Alguns exemplos de situação de uso da escrita são confrontados com o objetivo de mostrar os diferentes efeitos argumentativos e, portanto, caracterizar uma possível etnografia da língua escrita que ressalta as relações entre as opções lingüísticas e os usos sociais e formam, portanto, uma cultura escrita em que entram em jogo valores sociais e políticos, o que reforça uma abordagem sociolingüística para a análise. A segunda parte descreve as avaliações que, implícita ou explicitamente, instituem o processo de normatização. O processo de normatização verificado na língua escrita não envolve apenas os aspectos relacionados ao código. Existem marcas escritas que indicam procedimentos discursivos sofisticados, revelando estratégias argumentativas que exigem níveis de compreensão menos lineares. Um caso específico dessas marcas é o sic que sinaliza, sob o ponto de vista do autor, a localização de uma improcedência. A presença do sic é um forte indicador de um julgamento autoral e reflete uma imagem de correção conceitual e formal que estabelece, na língua escrita, uma espécie de controle interacional (Fairclough, 2001). Construiu-se uma taxonomia das ocorrências do sic, na tentativa de especificar quais componentes gramaticais são avaliados com mais freqüência e quais formas lingüísticas possuem maior visibilidade no processo de identificação de problemas lingüísticos. Comprova-se que a aplicação de uma norma lingüística que baliza a concepção de erro está subordinada ao projeto retórico do texto, o que significa que a maior ou menor tolerância em relação aos desvios subordina-se ao grau de simpatia projetado para aqueles que são retratados, principalmente quando são usadas estratégias de transcrição desnaturalizada (Bucholtz, 2000). A variação dos critérios de julgamento entre os usuários indica que a própria construção de um padrão normativo é o resultado de uma constante tensão entre a tradição e a inovação, o que produz expectativas de correção que são indicadoras de que, para uma comunidade letrada, o debate lingüístico público é, na verdade, um dos fatores de promoção da aceitação de padrões de correção (Milroy & Milroy, 1999). A terceira parte caracteriza um recurso de explicitação que, através da apresentação do elemento 'referido' entre parênteses, pretende indicar complementações semânticas ligadas à resolução pronominal. Demonstra-se que esse processo de explicitação também é governado por um projeto retórico que tenta monitorar as possibilidades interpretativas, desde a indicação da forma considerada ambígua até a escolha da informação que soluciona o eventual problema. Nesse movimento de explicitação são encontrados argumentos que reforçam o postulado de que o processo de referenciação trabalha com objetos do discurso (Clark,1996; Cornish, 1999; Koch, 2001; Marcuschi, 2001) e contribui para o processo de padronização, já que formas lingüísticas são apontadas como problemáticas e, portanto, consideradas merecedoras de monitoramento. 2008-12-04 info:eu-repo/semantics/publishedVersion info:eu-repo/semantics/doctoralThesis http://hdl.handle.net/1843/DAJR-88QJU3 por info:eu-repo/semantics/openAccess text/html Universidade Federal de Minas Gerais 32001010057P2 - ESTUDOS LINGÜÍSTICOS UFMG BR reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG instname:Universidade Federal de Minas Gerais instacron:UFMG |