Da selva imaginária à fantasia fundamental: variações sobre a lógica da fantasia em Freud

=== Insofar as it is an eminently clinical concept, fantasy plays a capital role in psychoanalysis. Taking that into account, the present research proposes a retroactive reading of this concept in Freud, aiming to locate its logic. In order to do so, one searches to precise the earliest uses of the...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Virginia Celia Carvalho da Silva
Other Authors: Jesus Santiago
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade Federal de Minas Gerais 2014
Online Access:http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9LVR3V
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description === Insofar as it is an eminently clinical concept, fantasy plays a capital role in psychoanalysis. Taking that into account, the present research proposes a retroactive reading of this concept in Freud, aiming to locate its logic. In order to do so, one searches to precise the earliest uses of the term, revealing its decisive importance to the invention of psychoanalysis. One also intended to identify possible modifications in the use of this notion. The first one refers to a more descriptive feature of fantasy, and demonstrates the plurality of its presentation in neurosis. A wilderness of fantasies expression coined by Jacques Lacan was perceived in this initial moment. Besides implying a great quantity of something, the term wilderness denotes a place that has not suffered the full intervention of civilizatory processes. The first chapter of this dissertation focused on these two versants of fantasy, showcasing its variety of presentations, as well as the fact that it pushes the neurotic patient further away from reality. A second moment of Freuds démarche can be extracted from a text that operates a twist in his thoughts on fantasy, that is, the article from 1919, entitled A child is being beaten: a contribution to the study of the origin of sexual perversions. In the latter, Freud deals with a fantasy commonly found in patients account, in order to formalize its functioning. That leads him to a fundamental versant, namely the Oedipal scar. This mark, carried by the neurotic subject throughout his/her life, is an answer to what he/she believes is expected from him/her by the Other, being used by him/her as a framing of reality. His/her way of perceiving the world is framed by fantasy, that works both as a screen that hides reality and a window that grants him/her some access to the same. Fantasy points towards a limit regarding speech, insofar as it is not possible to access this mark via signifier. Through this optic, the aforementioned Freudian text so relevant to psychoanalysis and widely emphasized by Lacan brought about a third moment of argumentation, based on the notion of construction, referred to in 1919 and further developed in 1937, in the text Constructions in analysis. In this third moment, it was possible to recognize the idea of construction as a cornerstone of Freuds logic of fantasy, as well as the reduction of the wilderness of fantasies to fantasy as a scar. These operations, insofar as they reach the limits of speech, evidentiate an endless versant of analysis: the rock of castration. The insistence in trying to represent this endless versant leads analysis towards an interminable point. For considering that the logic of treatment is equivalent to the logic of fantasy and also for taking seriously the Freudian idea of drive as something that cannot be destroyed, Lacan introduces this dimension into analysis instead of fighting against it. He understands that in order to live, drive must cross the plane of identifications, in which the subject strives to accomplish what pleases the Other, and is therefore imprisoned in this movement. The crossing of the fantasy notion absent in Freuds theorization alongside with reduction and construction were approached in the third chapter of this dissertation as the three pillars of the logic of fantasy. The present work concludes, therefore, that there is a logic of fantasy in Freuds work, and still that, if Lacan could go further than Freud, it was because he affirmed that this logic plays a crucial role in the logic of the cure. === Por se tratar de um conceito eminentemente clínico, a fantasia tem função capital na psicanálise. Considerando essa relevância, a presente pesquisa propôs uma leitura retroativa do conceito em Freud. Para tanto, buscou-se precisar as primeiras utilizações do termo que acabaram por evidenciar sua importância decisiva para a própria invenção da psicanálise. Também se procurou identificar possíveis modificações do uso dessa noção. Assim, verificaram-se três enfoques distintos. O primeiro refere-se a uma indicação mais descritiva da fantasia e demonstra a pluralidade de suas apresentações na neurose. Uma selva das fantasias nome designado por Lacan foi o que se encontrou nesse percurso inicial. Além de designar a grande quantidade de algo, o termo selva denota um lugar em que a intervenção dos processos civilizatórios ainda não se deu com toda a sua força. O primeiro capítulo desta dissertação centrou-se nessas duas vertentes da fantasia, indicando sua variedade de apresentações, assim como sua característica de afastar o sujeito neurótico da realidade. Um segundo momento do percurso de Freud pode ser extraído do texto que faz uma reviravolta em seu pensamento sobre a fantasia, o Uma criança é espancada: uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais(1919). Nele, Freud trabalha uma fantasia comumente encontrada no relato de seus pacientes e tenta formalizar seu modo de funcionamento, o que faz com que se depare com uma vertente fundamental, a qual nomeia cicatriz de Édipo. Essa marca levada pelo sujeito neurótico na vida é como uma resposta ao que acredita que o Outro espera dele, e a utiliza como enquadramento da realidade. Seu modo de ver o mundo é emoldurado pela fantasia, que funciona como uma tela que esconde o real e, ao mesmo tempo, uma janela que permite algum acesso ao real. A fantasia aponta para um limite em relação ao dizer, pois não é possível acessar essa marca pela via do significante. Por esse prisma, o referido texto freudiano levou ao destaque de um terceiro momento, a partir da noção de construção, apontada em 1919 e aprofundada em 1937 no texto Construções em análise. Nesse terceiro momento, foi possível reconhecê-la como um pilar da lógica da fantasia em Freud, assim como a operação de redução da selva das fantasias à fantasia como cicatriz. Essas operações, por tocarem nos limites do dizer, evidenciam uma vertente da análise que é infinita: o rochedo da castração. Insistir em tentar fazer representar esse infinito leva a análise a um interminável. Por considerar que a lógica do tratamento é equivalente à lógica da fantasia e também por fazer valer a ideia freudiana da pulsão como o que não pode ser destruído, Lacan se preocupa em introduzir essa dimensão na análise e não luta contra ela. Entende que para que se possa viver a pulsão é preciso atravessar o plano das identificações, em que o sujeito busca ser o que agrada ao Outro e se aprisiona nesse movimento. A travessia da fantasia noção da qual Freud não dispunha ,a redução e a construção foram trabalhadas no terceiro capítulo dessa dissertação como os três pilares da lógica da fantasia. O presente trabalho conclui, portanto, que há uma lógica da fantasia em Freud. E, ainda, que se Lacan pôde ir além de Freud, foi porque deu a essa lógica da fantasia função central na lógica da cura.
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Virginia Celia Carvalho da Silva
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Besides implying a great quantity of something, the term wilderness denotes a place that has not suffered the full intervention of civilizatory processes. The first chapter of this dissertation focused on these two versants of fantasy, showcasing its variety of presentations, as well as the fact that it pushes the neurotic patient further away from reality. A second moment of Freuds démarche can be extracted from a text that operates a twist in his thoughts on fantasy, that is, the article from 1919, entitled A child is being beaten: a contribution to the study of the origin of sexual perversions. In the latter, Freud deals with a fantasy commonly found in patients account, in order to formalize its functioning. That leads him to a fundamental versant, namely the Oedipal scar. This mark, carried by the neurotic subject throughout his/her life, is an answer to what he/she believes is expected from him/her by the Other, being used by him/her as a framing of reality. His/her way of perceiving the world is framed by fantasy, that works both as a screen that hides reality and a window that grants him/her some access to the same. Fantasy points towards a limit regarding speech, insofar as it is not possible to access this mark via signifier. Through this optic, the aforementioned Freudian text so relevant to psychoanalysis and widely emphasized by Lacan brought about a third moment of argumentation, based on the notion of construction, referred to in 1919 and further developed in 1937, in the text Constructions in analysis. In this third moment, it was possible to recognize the idea of construction as a cornerstone of Freuds logic of fantasy, as well as the reduction of the wilderness of fantasies to fantasy as a scar. These operations, insofar as they reach the limits of speech, evidentiate an endless versant of analysis: the rock of castration. The insistence in trying to represent this endless versant leads analysis towards an interminable point. For considering that the logic of treatment is equivalent to the logic of fantasy and also for taking seriously the Freudian idea of drive as something that cannot be destroyed, Lacan introduces this dimension into analysis instead of fighting against it. He understands that in order to live, drive must cross the plane of identifications, in which the subject strives to accomplish what pleases the Other, and is therefore imprisoned in this movement. The crossing of the fantasy notion absent in Freuds theorization alongside with reduction and construction were approached in the third chapter of this dissertation as the three pillars of the logic of fantasy. The present work concludes, therefore, that there is a logic of fantasy in Freuds work, and still that, if Lacan could go further than Freud, it was because he affirmed that this logic plays a crucial role in the logic of the cure. Por se tratar de um conceito eminentemente clínico, a fantasia tem função capital na psicanálise. Considerando essa relevância, a presente pesquisa propôs uma leitura retroativa do conceito em Freud. Para tanto, buscou-se precisar as primeiras utilizações do termo que acabaram por evidenciar sua importância decisiva para a própria invenção da psicanálise. Também se procurou identificar possíveis modificações do uso dessa noção. Assim, verificaram-se três enfoques distintos. O primeiro refere-se a uma indicação mais descritiva da fantasia e demonstra a pluralidade de suas apresentações na neurose. Uma selva das fantasias nome designado por Lacan foi o que se encontrou nesse percurso inicial. Além de designar a grande quantidade de algo, o termo selva denota um lugar em que a intervenção dos processos civilizatórios ainda não se deu com toda a sua força. O primeiro capítulo desta dissertação centrou-se nessas duas vertentes da fantasia, indicando sua variedade de apresentações, assim como sua característica de afastar o sujeito neurótico da realidade. Um segundo momento do percurso de Freud pode ser extraído do texto que faz uma reviravolta em seu pensamento sobre a fantasia, o Uma criança é espancada: uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais(1919). Nele, Freud trabalha uma fantasia comumente encontrada no relato de seus pacientes e tenta formalizar seu modo de funcionamento, o que faz com que se depare com uma vertente fundamental, a qual nomeia cicatriz de Édipo. Essa marca levada pelo sujeito neurótico na vida é como uma resposta ao que acredita que o Outro espera dele, e a utiliza como enquadramento da realidade. Seu modo de ver o mundo é emoldurado pela fantasia, que funciona como uma tela que esconde o real e, ao mesmo tempo, uma janela que permite algum acesso ao real. A fantasia aponta para um limite em relação ao dizer, pois não é possível acessar essa marca pela via do significante. Por esse prisma, o referido texto freudiano levou ao destaque de um terceiro momento, a partir da noção de construção, apontada em 1919 e aprofundada em 1937 no texto Construções em análise. Nesse terceiro momento, foi possível reconhecê-la como um pilar da lógica da fantasia em Freud, assim como a operação de redução da selva das fantasias à fantasia como cicatriz. Essas operações, por tocarem nos limites do dizer, evidenciam uma vertente da análise que é infinita: o rochedo da castração. Insistir em tentar fazer representar esse infinito leva a análise a um interminável. Por considerar que a lógica do tratamento é equivalente à lógica da fantasia e também por fazer valer a ideia freudiana da pulsão como o que não pode ser destruído, Lacan se preocupa em introduzir essa dimensão na análise e não luta contra ela. Entende que para que se possa viver a pulsão é preciso atravessar o plano das identificações, em que o sujeito busca ser o que agrada ao Outro e se aprisiona nesse movimento. A travessia da fantasia noção da qual Freud não dispunha ,a redução e a construção foram trabalhadas no terceiro capítulo dessa dissertação como os três pilares da lógica da fantasia. O presente trabalho conclui, portanto, que há uma lógica da fantasia em Freud. E, ainda, que se Lacan pôde ir além de Freud, foi porque deu a essa lógica da fantasia função central na lógica da cura. 2014-02-21 info:eu-repo/semantics/publishedVersion info:eu-repo/semantics/masterThesis http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9LVR3V por info:eu-repo/semantics/openAccess text/html Universidade Federal de Minas Gerais 32001010041P9 - PSICOLOGIA32001010041P9 - PSICOLOGIA UFMG BR reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG instname:Universidade Federal de Minas Gerais instacron:UFMG