Summary: | === This dissertation aims to investigate the sharing by children of traditional games, songs, recitative elements, rhymes, anecdotes and jokes containing information interdicted by adults, particularly concerning sexuality. The research focuses on how and why children reproduce,
create, interpret and convey within a peer culture knowledge stemming from an Adult Symbolic Reserve. This paper is grounded in the field of Childhood Studies and works with Manuel Sarmentos concept of Symbolic Management of Childhood, Willian Corsaros concept of Interpretative Reproduction, and Claude Gaignebets concept of Obscene Folklore of Children. The methodological resources used are the observation and analysis of childrens daily life at school, as well as four interviews with adults on their obscene childhood memories. The school where observation of the children was carried out caters
mostly to middle class, intellectual families, who are generally critical of traditional education and commonly identify themselves as alternative, politicized, or democratic. The adults interviewed were selected from this same group of people. The study showed that the sharing of games, songs, recitative elements, rhymes, anecdotes and jokes containing information interdicted by adults fulfills several types of motivations: it is an attempt to satisfy childrens curiosity about sex (as demonstrated by Freud), a source of pleasure or relief of displeasure, takes the form of integrative social interaction, or is an instrument for affirmation of
manhood. The investigation also showed that the ways and reasons of this sharing fit broader structural relationships between childhood and society. In other words, the research concluded that childhood obscene can be understood as an adaptive response by children to the proscription and prohibitions of a socially and historically variable Symbolic Management of Childhood, which may take the traditional and anonymous form of folklore, as shown by the interviews, or alternatively the form of a quite scholarly collective investigation among peers, as shown by the observation of children in their school environment. Because the investigation constituted a case study, and due to the specific characteristics of the group in question, these conclusions cannot be deemed universal and do not exhaust the possibility that
other ways and reasons may exist. === Esta dissertação pretende investigar o compartilhamento entre crianças de músicas, parlendas, anedotas e brincadeiras tradicionais com informações interditas pelos adultos, sobretudo no que concerne à sexualidade. Trata-se de saber como e por que as crianças reproduzem, criam, interpretam e transmitem, no interior de uma cultura de pares, um conjunto de saberes oriundos de uma reserva simbólica adulta. O trabalho se situa no campo dos estudos da criança e opera com os conceitos de administração simbólica da infância, de Manuel Sarmento; reprodução interpretativa, de Willian Corsaro; e folclore obsceno das crianças, de Claude Gaignebet. Como recursos metodológicos, optou-se pela análise do cotidiano escolar de crianças, acrescida de quatro entrevistas com memórias obscenas infantis de
adultos. A observação foi realizada em uma escola que atende famílias provenientes de frações intelectualizadas das classes médias, em geral críticas da educação tradicional, e que comumente se autodenominam alternativas, politizadas ou democráticas. Os entrevistados foram escolhidos entre os membros desse mesmo grupo. Observou-se que tal compartilhamento possui diversas motivações: serve a uma curiosidade sexual infantil, conforme constata Freud, é fonte de prazer ou de alívio do desprazer e assume a forma de uma interação social integrativa ou de instrumento de afirmação da virilidade. Por fim,
percebeu-se que os modos e as razões desse compartilhamento atendem relações estruturais entre a infância e a sociedade de forma mais ampla. Ou seja, concluiu-se que o obsceno infantil pode ser compreendido como uma resposta adaptativa das crianças às proibições e prescrições de uma administração simbólica da infância socio-historicamente variável, podendo assumir a forma tradicional e anônima de um folclore, como demonstram as entrevistas ou de uma investigação coletiva entre pares bastante escolarizada, como fez ver a
observação. Por se tratar de um estudo de caso, credor das especificidades do grupo em questão, tais conclusões não poderão ser universalizadas, tampouco esgotam as possibilidades de existência de outros modos e outras razões.
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