A noção de crise no campo da saúde mental: saberes e práticas em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

=== The present paper is a qualitative case study. It aims at discussing the crisis notion supporting Psychosocial Attention Centers (CAPS) which offer services of attention to mental health crisis and urgencies. Therefore it were conducted participants observations, interviews to specialized profe...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Aline Gomes Martins
Other Authors: Izabel Christina Friche Passos
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade Federal de Minas Gerais 2013
Online Access:http://hdl.handle.net/1843/BUOS-984J8V
Description
Summary:=== The present paper is a qualitative case study. It aims at discussing the crisis notion supporting Psychosocial Attention Centers (CAPS) which offer services of attention to mental health crisis and urgencies. Therefore it were conducted participants observations, interviews to specialized professionals, talks to non specialized professionals and to CAPS users in a Minas Gerais state countryside town. In order to best comprehend the argument, an exploratory bibliographic survey was conducted to investigate the notion of crisis throughout mental health history; from the ideas sustained by classic psychiatry up to the knowledge transmitted by the psychiatric reform. The interviews to the professionals were recorded and transcribed integrally, and analyzed according to the contributions of the content analysis. The interviews analysis allowed the raising of four hypotheses. These hypotheses approach central topics in the respondents speech and were configured in categories of analysis as follows: knowledge ranking, medicalization, protocol overvaluation and crisis conceptions. Each category displays a conflictive issue which intertwines and composes the result for this research. The interviews have shown that most of the professionals feel lost in his duties without knowing what to do or how to act. Such situation can be explained by the hegemony on the medical service which barely leaves room for other fields. Despite the existence of multiple coexisting skills and definitions, it is clear the predominance in the CAPS context of a crisis notion molded by the medical clinic. As the crisis is taken by most of the professionals as a state of intensification of psychiatric symptoms and the patient is evaluated for his behavior, no opportunities are given to other treatments which take in consideration the subjectivity and the complexity of social relations which constitute and keep the crisis. In order to build an effective treatment, it is necessary to break with the hegemony of knowledges and give chances to multiple possibilities of realizing and dealing with the crisis according to the patient demands. It must be primordial the subjective dimension in dealing with the crisis. This treating is built from the relation with the subject, his personal, familiar, professional and emotional records. === O presente trabalho é um estudo de caso em uma perspectiva qualitativa. Objetiva problematizar a noção de crise, que dá sustentação aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) enquanto serviços de atenção a crises e urgências em saúde mental. Para tanto, foram realizadas observações participantes, entrevistas com profissionais especialistas, conversas com os profissionais não especialistas e usuários de um CAPS de uma cidade do interior de Minas Gerais. Para uma melhor compreensão sobre o tema, foi efetuado um levantamento bibliográfico exploratório a fim de investigar as noções de crise no transcorrer da história da saúde mental, desde as ideias defendidas pela psiquiatria clássica até os saberes difundidos pela reforma psiquiátrica. As entrevistas realizadas com os profissionais foram gravadas e transcritas na íntegra, e analisadas a partir das contribuições da análise de conteúdo. A análise das entrevistas permitiu levantar quatro hipóteses. Essas hipóteses compreendem temas centrais presentes nas falas dos entrevistados e se configuraram em categorias de análise. Foram elas: Hierarquização do saber; Medicalização; Supervalorização do protocolo; Concepções de crise. Cada categoria expõe um tema conflituoso, os quais se entrelaçam e compõem os resultados dessa pesquisa. As entrevistas mostram que a maioria dos profissionais se encontram perdidos dentro do serviço, sem saber o que fazer e como agir. Tal situação pode ser explicada pela hegemonia do saber médico, que deixa pouco espaço para as demais áreas do conhecimento atuarem. Por mais que exista uma multiplicidade de saberes e de noções convivendo entre si, fica claro que predomina no CAPS uma noção de crise aos moldes da clínica médica. Como a crise é percebida, pela maioria dos profissionais, como um estado de agudez dos sintomas psiquiátricos, e o sujeito é avaliado a partir do seu comportamento, não se abre possibilidades para outros tratamentos que levem em consideração a subjetividade e toda a complexidade de relações sociais que a constitui e mantém. Para que um tratamento efetivo se construa, precisamos romper com a hegemonia de saberes e abrir as portas para múltiplas possibilidades de perceber e lidar com a crise, a depender da demanda do paciente. O que há de primordial no cuidado com a crise é a dimensão subjetiva. O trato com a mesma se constrói a partir da relação com o sujeito, com a sua história de vida, familiar, profissional e emocional.