Relações entre práticas tradicionais e práticas escolares de saúde das populações rurais em Minas Gerais (Ibirité, 1940 a 1970)

=== This study aims to identify and understand the relationships between traditional practices and school practices of health of rural populations between the decades of 40 and 70 of the 20th century in Ibirité, Minas Gerais. For this purpose, the actions and prescriptions related to health, which...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Walquiria Miranda Rosa
Other Authors: Ana Maria de Oliveira Galvao
Format: Others
Language:Portuguese
Published: Universidade Federal de Minas Gerais 2015
Online Access:http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9XCH2C
Description
Summary:=== This study aims to identify and understand the relationships between traditional practices and school practices of health of rural populations between the decades of 40 and 70 of the 20th century in Ibirité, Minas Gerais. For this purpose, the actions and prescriptions related to health, which were accomplished in the Training Courses given at the Fazenda do Rosário ( Rosary Farm ), were at first analysed since this is one of the first rural teachers training initiatives in Minas Gerais in which emphasis was given to the implementation of new health and hygiene habits of the rural population. In a second step, the health practices performed by the local community were analysed. Written sources were consulted such as documents relating to the organization and curriculum of the Training Courses; texts written by Helena Antipoff; newspapers and internal circulation magazines to the Fazenda do Rosário; laws and pedagogic forms. Interviews were conducted with former teachers-students and local women through the methodology of Oral History. The study is based, theoretically and methodologically in the assumptions of Cultural History; in particular, in the concept of representation according to the perspective of Roger Chartier, and the tactics and strategies of Michel de Certeau. Also the concepts of schooling and school culture were used. In the first chapter, we have discussed the strategies used in the formation of rural teachers in order to instrumentalize them so that they could intervene in the ways of life of the population. In the second chapter, the health practices carried out by the community were approached as well as the ways of transmission and learning of these practices. In the third chapter, the relationships between the school practices and the community practices for health care and hygiene were analysed, and how these practices were carried out not only in the Training Courses, but also in the community daily life, and the spaces in which they were lived, in an attempt to show shares and tensions. The research identified the silencing of traditional health knowledge throughout the training of teachers, because rare were the moments where it appeared in the consulted sources, references - and even criticisms to this knowledge. This does not mean that this knowledge did not circulate and was not carried out by the community and / or by the teachers-students. In an attempt to assert the knowledge of classical medicine, the strategy used was to not give voice and expression to the traditional health practices in the curriculum of the Training Courses. There was a hygienist medical ideal to be disseminated and assimilated by the subjects. It is, therefore, this discourse that will circulate in the prescriptions that guided the activities directed to the teachers-students, aimed at the formation of a sanitized, healthy and civilized citizen. However, interviews with former pupils and teachers and with community women show that traditional knowledge about health was used in a meaningful way everyday. This knowledge was invented and reinvented in community livelihoods, by the teachers-students and even by doctors and nurses responsible for the training of these people. === Essa pesquisa teve o objetivo de identificar e compreender as relações entre práticas tradicionais e práticas escolares de saúde das populações rurais, entre as décadas de 40 e 70, do século XX em Ibirité, Minas Gerais. Para tanto, foram analisadas, em um primeiro momento, as ações e prescrições relativas à saúde realizadas nos Cursos de Aperfeiçoamento oferecidos na Fazenda do Rosário, por ser essa uma das primeiras iniciativas de formação de professoras rurais em Minas Gerais na qual era dada ênfase a construção de novos hábitos de saúde e de higiene da população rural. Em um segundo momento foram analisadas as práticas de saúde realizadas pela comunidade local. Foram consultadas fontes escritas, como documentos relativos à organização e ao currículo dos Cursos de Aperfeiçoamento; textos escritos por Helena Antipoff; jornais e revistas de circulação interna à Fazenda do Rosário; leis e impressos pedagógicos. Foram também realizadas entrevistas com ex-professoras/alunas e mulheres da comunidade, por meio da metodologia da História Oral. O estudo está baseado, teórica e metodologicamente, nos pressupostos da História Cultural; em particular, no conceito de representações, de acordo com a perspectiva de Roger Chartier e de táticas e estratégias, de Michel de Certeau. Também foram utilizados os conceitos de escolarização e cultura escolar. No primeiro capítulo, foram abordadas as estratégias utilizadas na formação das professoras rurais no sentido de instrumentalizá-las para que pudessem intervir nos modos de vida da população. No segundo capítulo, foram abordadas as práticas de saúde realizadas pela comunidade e as formas de transmissão e aprendizado dessas práticas. No terceiro capítulo, foram analisadas as relações entre as práticas escolares e as práticas da comunidade em relação aos cuidados com a saúde e a higiene, como essas práticas circularam tanto nos Cursos de Aperfeiçoamento, como no cotidiano da comunidade, e os espaços nos quais foram vividas, buscando evidenciar compartilhamentos e tensões. A pesquisa nos permitiu identificar o silenciamento sobre saberes tradicionais de saúde ao longo da formação das professoras, pois raros eram os momentos em que apareciam nas fontes consultadas, referências - e até mesmo críticas - a esses saberes. Isso não significa dizer que esses saberes não circulavam e não eram praticados pela comunidade e/ou pelas professoras/alunas. Na tentativa de afirmar os saberes da medicina erudita, a estratégia utilizada foi a de não dar voz e expressão às práticas tradicionais de saúde no currículo dos Cursos de Aperfeiçoamento. Havia um ideal médico higienista que necessitava ser divulgado e apropriado pelos sujeitos. É, portanto, esse discurso que vai circular nas prescrições que pautavam as atividades direcionadas para as professoras/alunas, que visavam à formação de um cidadão higienizado, saudável e civilizado. No entanto, as entrevistas realizadas com as ex-professoras/alunas e com mulheres da comunidade mostram que os saberes tradicionais sobre saúde eram utilizados no cotidiano de modo significativo. Esses saberes eram inventados e reinventados nos modos de vida da comunidade, pelas professoras/alunas e até mesmo pelos médicos e enfermeiras responsáveis pela formação que elas recebiam.