Summary: | === O objetivo deste trabalho é investigar como o corpo de Diadorim é representado na obra Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Para tanto, propomos uma análise dos principais encontros deste personagem com Riobaldo. Nossa reflexão embasa-se em conceitos psicanalíticos sobre a dificuldade de apreensão do real, além das teses de Jacques Lacan e Roland Barthes sobre a letra - significante pleno - que serão fundamentais para a aproximação que propomos desta ao corpo num contexto literário. No primeiro encontro dos personagens, ainda adolescentes, à margem do rio-de-janeiro, já é possível perceber como o corpo de Diadorim escapa à representação plena no discurso do narrador, o que também será percebido no segundo encontro, quando já estão adultos e inseridos na jagunçagem. Neste reencontro, é pela imagem corporal que o narrador identifica o então jagunço Reinaldo - mais tarde conhecido como Diadorim - com o Menino do porto do de-janeiro. As diferentes maneiras de nomear o companheiro e o jogo suspensivo que o Riobaldo envolve o interlocutor, e conseqüentemente o leitor, também contribuem para o efeito enigmático gerado pelo corpo de Diadorim, de modo que a ambigüidade a respeito da sexualidade deste é permanente. A "neblina" será então o elemento escolhido para demonstrar como sempre há algo permanece velado quando se procura descrever Diadorim, e principalmente seu corpo. Finalmente, o último encontro coincide com a morte e a revelação do feminino do personagem. Todavia, o que se percebe é que tal descoberta ainda não é de todo assimilada por Riobaldo, que, por sua vez, precisa repetir o vivido, em sua fala para tentar decifrar o enigma que o personagem representa. Nossa proposta, então, é acompanhar estes encontros e tentar descobrir como a "neblina" se estrutura no corpo de Diadorim.
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