Summary: | Este artigo é comemorativo do centenário do eclipse total do Sol ocorrido em 29/5/1919, cujos dados observacionais coletados por duas equipes britânicas deram lugar a um fato marcante da História da Ciência: a confirmação da deflexão da luz pelo Sol predita por Einstein, o que o entronizou da noite para o dia no panteão dos gênios da humanidade; e o lançamento ao mundo da Teoria da Relatividade Geral. Mas esse eclipse diz respeito especialmente a nós, brasileiros, pois foi observado por uma das equipes britânicas em Sobral, CE. Para o bom entendimento desse acontecimento, a curiosa ideia de que a luz pode deixar de caminhar em linha reta, será discutida desde seus primeiros registros. A formulação dessa ideia seguiu pari passu a elaboração da Relatividade Geral, ou melhor, a transição da Relatividade Restrita de 1905 à Relatividade Geral de 1915. A possibilidade da detecção num eclipse da deflexão da luz, um dos testes da validade da Relatividade Geral, mobilizou astrônomos de vários países por muitos anos. No eclipse de 1919 foi anunciada bombasticamente a confirmação da deflexão da luz e a validação da Relatividade Geral. Nesta parte, também visando o bom entendimento, o presente trabalho é suplementado com esclarecimentos sobre termos técnicos e sobre procedimentos de observação fotográfica e análise de imagens. A discussão e a proclamação dos resultados e a posterior “supercomprovação” da deflexão da luz serão discutidas à luz dos estudos de astrônomos e físicos, historiadores e filósofos da ciência realizados nestes 100 anos desde o eclipse, com o intuito de propor ao leitor uma reflexão, não só sobre os avanços conceituais e tecnológicos da ciência, mas sobretudo sobre as novas avaliações acerca da validade do conhecimento científico, da incidência dos fatores sociológicos e menos racionais na construção desse conhecimento. Nos bastidores da comunidade científica o anúncio bombástico dos resultados do eclipse de 1919 não foi simples e direto como as manchetes da época e algumas atuais, ainda insistem em nos fazer crer. Esta é a oportunidade para uma retificação, em benefício de uma percepção realista e não falsamente idealizada da ciência e dos cientistas.
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