Summary: | A complexidade ocupa lugar de destaque na hipótese tensiva formulada por Claude Zilberberg. O foco desse artigo é promover, a título de homenagem, uma reflexão acerca do tratamento teórico dado por ele a esse fenômeno. Zilberberg (2010, 2011a) assume uma “complexidade de desenvolvimento” que permite a coexistência ou a “colaboração” entre unidades discretas e graduais e que mantém a coerência teórica do conceito de tensividade na descrição semiótica. Apesar de ser uma posição conciliadora, esse movimento teórico representa, para muitos, a passagem de uma semiótica da diferença para uma semiótica do intervalo. No entanto, é preciso destacar que a coexistência de grandezas não deve implicar operações exatamente graduais na descrição do sensível, muito menos a subordinação das operações opositivas àquelas consideradas escalares, como fazem parecer algumas interpretações da semiótica tensiva. As formulações teóricas de Zilberberg nos permitem pensar em uma simulação da gradualidade por meio de uma complexificação do descontínuo, em que determinadas operações analíticas diluem as fronteiras entre as unidades discretas, sem, no entanto, eliminá-las por completo. Trata-se, a nosso ver, de uma graduação da diferença, por outra operação diferencial, de ordem metalinguística. Com a adoção desse ponto de vista a complexidade não daria azo a qualquer interpretação substancialista ou ontologizante e ganharia estatuto epistemológico de instância de mediação entre as abordagens semióticas que dirigem sua atenção para a dimensão tanto do contínuo quanto do descontínuo. Além disso, o postulado da diferença, condição sine qua non da inteligibilidade científica, mantém-se intacto na descrição dos afetos pelo viés da tensividade.
|