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Se fosse possí­vel sintetizar, em uma palavra, a condição semiótica da comunicação nesse tempo de tecnocultura e tecnociência, seria muito difí­cil fugir da palavra diversidade. O movimento de convergência entre diferentes sistemas, de diferenciação dos códigos, de expansão das linguagens, de redime...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Irene Machado
Format: Article
Language:English
Published: Pontíficia Universidade Católica de São Paulo 2007-02-01
Series:Galáxia
Online Access:https://revistas.pucsp.br/galaxia/article/view/1262
Description
Summary:Se fosse possí­vel sintetizar, em uma palavra, a condição semiótica da comunicação nesse tempo de tecnocultura e tecnociência, seria muito difí­cil fugir da palavra diversidade. O movimento de convergência entre diferentes sistemas, de diferenciação dos códigos, de expansão das linguagens, de redimensionamento de significações, são evidentes manifestações nesse sentido. Firmando o compromisso de promover uma compreensão cada vez mais acurada da diversidade semiótica, este terceiro níºmero da revista Galáxia apresenta algumas formulações a esse respeito. Na abertura da sessão Fórum o antropólogo e poeta Antônio Risério assumiu a tarefa de definir para qual diversidade se voltam os estudos semióticos. Situando-se numa perspectiva crí­tica sobre a onda de movimentos em favor da biodiversidade, Risério alerta sobre a inutilidade de tais protestos se a eles não estiver associada a defesa da semiodiversidade, entendida aqui como condição privilegiada da cultura humana e de tudo que chamamos vida. Nesse texto-manifesto se insinuam algumas questões que abrem um diálogo com outros artigos da revista, bem como com algumas linhas da abordagem daquilo que tem se definido como uma ecologia da comunicação. Os artigos de Vilém Flusser e de Eduardo Kac em torno da biotecnologia são exemplares dessa abordagem. Vilém Flusser apresenta um conjunto de idéias sobre a diversidade da informação que permitiu as experiências artí­sticas desenvolvidas no contexto das descobertas da biotecnologia - chave para o desenvolvimento de uma "nova arte do viver", ou da ars vivendi como queria o autor. Muitas das indagações que conduziram a reflexão de Flusser deixam o campo especulativo e tornam-se experiências vivas quando transportadas para o contexto da investigação de Eduardo Kac. Enquanto Flusser cogitava da possibilidade da arte transgênica, Kac não mediu esforços para levar adiante seu projeto de criação de uma coelhinha transgênica. Em seu artigo, não apenas os passos dessa empreitada são apresentados, como também o amplo conjunto de idéias sobre as novas formas de sociabilidade e de condução ética que esse tipo de experiência artí­stica coloca para a sociedade. Kac conduz suas reflexões à luz de um conjunto altamente diversificado de campos teóricos do conhecimento, dentre eles, filosofia, lingüí­stica, história da arte, antropologia, ciências sociais, biológicas e cognitivas - um verdadeiro exercí­cio de transdisciplinaridade que nos é tão caro. Os três artigos concentram, cada um a seu modo, pontos em defesa da semiodiversidade que dão sustentação ao pensamento ecológico. Com isso, a revista Galáxia abre espaço para formulações que já são referências obrigatórias para nossas pesquisas no campo da ecossemiótica e da cibersemiótica. Estou me referindo aos estudos da ecologia da comunicação que procuram entender a esfera do bios como constitutiva de um ambiente semiótico denominado semion, ou a semiosfera, conceptualizada pelo semioticista estoniano Iuri Lotman. A revista Galáxia não poderia deixar de reverenciar, aqui, outra grande contribuição teórica brasileira para a constituição desse pensamento. Estou me referindo à teoria do bios-midiático formulada pelo ensaista, membro do comitê cientí­fico de Galáxia, Muniz Sodré em seu mais recente trabalho Antropológica do espelho (algumas idéias desse livro que está no prelo podem ser encontradas em recente entrevista publicada pela Revista Famecos, de dezembro de 2001). O caráter da abordagem transdisciplinar de Galáxia, neste terceiro níºmero, encontra-se fortalecido também por artigos de sua sessão homônima. Comunicação da ciência e as relações entre cognição e arte foram os temas alvo de análise. Isaltina Gomes apresenta um trabalho de mérito nesse sentido. Ciente de que a informação cientí­fica torna-se objeto do conhecimento píºblico, não ao ser enunciada pelos cientistas, mas ao serem transformadas em matérias jornalí­sticas, Gomes examina a semiose lingüí­stica e o jogo de ganhos e perdas ocorridos nesse processo de transposição. Além desse estudo sobre a ciência na mí­dia, a sessão de artigos publica o trabalho de Ronaldo Bispo sobre estudos recentes, publicados em periódicos cientí­ficos, que se voltaram para a compreensão da percepção e funcionamento do cérebro em suas contribuições para uma outra compreensão do chamado prazer estético. O compromisso com a análise aplicada foi preservado nesse níºmero de Galáxia graças aos artigos que tomaram a comunicação como objeto de estudo. Cecí­lia Salles apresenta um estudo minucioso dos instrumentos teóricos desenvolvidos no campo da crí­tica genética para a focalização semiótica da comunicação. Almir Rosa, por sua vez, examina o potencial estético que os recursos tecnológicos da televisão de alta definição vem aprimorando no Japão a partir de experiências da arte milenar, como, por exemplo, a gravura. Antonio Fausto Neto e Lucrecia Chauvel contribuí­ram para o enriquecimento de um dos temas que é sempre um desafio para os semioticistas: a relação entre mí­dia e discurso polí­tica. Chauvel analisa as notí­cias sobre os desaparecidos polí­ticos durante a ditadura militar argentina. Fausto Neto enfrentou a difí­cil tarefa de compreender a religiosidade no contexto das mí­dias eletrônicas de comunicação. O papel das mí­dias na cultura contemporânea é tema que percorre vários textos dessa edição de Galáxia. Na entrevista de Lev Manovich é possí­vel acompanhar o panorama do desenvolvimento tecnológico na construção das linguagens e das interfaces digitais. O percurso dessas idéias foi completado com a resenha do livro de Manovich, The Language of New Media. Na notí­cia sobre o curso, "Arqueologia das mí­dias", ministrado pelo professor Ziegfried Zielinski, acompanhamos a trajetória histórico-cultural não propriamente dos meios, mas de procedimentos que colocam numa mesma esfera de construção, novas e velhas mí­dias. Tanto Manovich quanto Ziegfried estudam as novas mí­dias no fluxo das conquistas que marcaram a civilização ocidental. Por isso, os dois estudiosos recorrem à arqueologia. O segundo semestre de 2001 foi particularmente rico de eventos na área dos estudos de comunicação e da semiótica. Dentre as reuniões cientí­ficas realizadas, dois foram noticiados nessa edição. O IV Encontro Internacional sobre o Pragmatismo e o V Congresso Brasileiro de Semiótica. A II Mostra Interpoesia também mereceu espaço nessa sessão. Obras fundamentais foram lançadas enriquecendo os tí­tulos de nossa pesquisa acadêmica. Foram resenhados os livros sobre as matrizes do pensamento, de Lucia Santaella, sobre arquitetura urbana, de Lucrécia Ferrara, sobre a obra de Kellreuter fazem parte dessa galeria. Na sessão de projeto, Paulo Angerami apresenta sua pesquisa fotográfica com câmeras. Embora o projeto editorial de Galáxia tivesse concebido a sessão de notí­cias para o relato de eventos culturais, cientí­ficos e artí­sticos, a revista não se deixa de noticiar as perdas de pessoas ilustres. Com profundo pesar, publicamos aqui a notí­cia do falecimento de Thomas Sebeok, notável semioticista e membro do Comitê Cientí­fico de Galáxia. Sua partida pode nos privar de sua companhia mas não de seus ensinamentos dos quais jamais poderemos abdicar. Irene Machado Editora Cientí­fica
ISSN:1519-311X
1982-2553