Summary: | O conceito de cultura suscita grandes debates na Antropologia em torno das relações entre o universal e o particular, entre elementos subjetivos e objetivos da vida social, entre o universo simbólico e o universo das práticas. Em torno desse conceito, buscarei atingir três objetivos principais neste artigo: o primeiro deles será questionar em que medida a cultura pode ser pensada como um elemento estruturante da construção do mundo e das formas de classificação. Em segundo lugar, procuro relacionar a cultura, que pode ser entendida como um fator gerador de práticas e da ação humana, com as relações de poder e a política. Por fim, busco compreender a cultura como um discurso, ou vocabulário comum, a partir do qual se dão as interações sociais, conflitos e disputas sociais. Esse debate em torno do conceito de cultura se dá a partir de casos empíricos por mim estudados em dois locais: no povoado do Aventureiro, na Ilha Grande-RJ (entre 2002 e 2008) e na cidade de Corumbá-MS, na fronteira com Puerto Quijarro, na Bolívia (entre 2009 e 2015). Esses dois lugares contêm um simbolismo muito grande, como metáfora geográfica para debater o conceito de cultura: um situado numa ilha (um lugar em relativo isolamento, com um grupo pequeno e homogêneo); o outro numa fronteira (com constante fluxo de pessoas e mercadorias, em um cenário de forte alteridade).
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