Summary: | Resumo No Brasil, não há produção sistemática de conhecimentos, métodos ou estratégias para o manejo clínico das repercussões do racismo sobre a saúde mental da população negra. Esta é uma lacuna teórica e prática relevante, pois, quando o terapeuta não reconhece o racismo como produtor de iniquidades sociais, preconceito e discriminação, contribui para aumento de sofrimento psíquico de seu paciente negro e para a manutenção das desigualdades raciais. Neste relato, apresentamos a experiência de atendimento clínico de duas mulheres autodeclaradas negras, universitárias, através de técnicas da Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) e Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC). Na análise, buscou-se destacar aspectos gerais da condução dos atendimentos que pudessem auxiliar ou suscitar reflexão entre psicólogos de orientações teóricas diversas. O relato de experiência é apresentado em três partes: a) acolhimento e estabelecimento de aliança terapêutica; b) identificação do racismo como origem do sofrimento psíquico; e c) resultados das intervenções. Os principais resultados referem-se ao estabelecimento de vínculo seguro e saudável, ao aumento do repertório de habilidades sociais, à elevação da autoestima e ao desenvolvimento de capacidade de autocompaixão/autocuidado pelas pacientes. Recomenda-se desenvolvimento de sensibilidade e competência cultural entre os profissionais da saúde mental para diminuir as disparidades na quantidade e qualidade do atendimento psicoterápico prestado a esta população.
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