Summary: | Hesitações, pausas e reformulações estão presentes em diferentes etapas da vida dos falantes. Na literatura de aquisição da linguagem, tende-se a relacionar o aparecimento articulado dessas três ocorrências com um momento especial (e final) do desenvolvimento. Essas ocorrências são analisadas como reflexos da liberação da habilidade metalinguística, ou seja, como resultado manifesto da dilatação da capacidade cognitiva de crianças (CLARK, 1978; HICKMAN, 1997 e outros). No campo das patologias da linguagem, por sua vez, a tendência dominante é tomá-las como evidência empírica de “perda” desta habilidade (LIER-DeVITTO & FONSECA, 1997). Neste trabalho, assume-se que tais ocorrências são índices da não coincidência do falante com sua própria fala. As escansões enunciativas são interpretadas como frestas ou fendas impregnadas de carga subjetiva, mas não cognitiva. O foco está voltado, portanto, para a relação sujeito-linguagem, partindo das postulações: fala e sujeito não coincidem, nem tampouco falante e sujeito são instâncias coincidentes. Nessa perspectiva, produz-se um afastamento de visadas cognitivistas seja sobre o “processo de subjetivação” e de suas explicações sobre hesitações, pausas e reformulações, seja sobre a manifestação patológica da linguagem e seus efeitos subjetivos.
|