Epidemia de suicídio entre os Guaraní-Kaiwá: indagando suas causas e avançando a hipótese do recuo impossível The Guaraní-Kaiwá suicide epidemic: investigating its causes and suggesting the impossible return hypothesis

O suicídio de seis jovens Guaraní-Kaiwá num período de duas semanas é por si só suficiente para preencher qualquer critério de epidemia. Em uma população de aproximadamente 7.500 indígenas, há informações de que foram registrados 52 suicídios de 1987 até agosto de 1991; a epidemia é mais dramática e...

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Main Author: Anastácio F. Morgado
Format: Article
Language:English
Published: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz 1991-12-01
Series:Cadernos de Saúde Pública
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000400009
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spelling doaj-e31864d32c1b473fa58e2a9dd9204d9f2020-11-25T01:00:29ZengEscola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo CruzCadernos de Saúde Pública0102-311X1678-44641991-12-017458559810.1590/S0102-311X1991000400009Epidemia de suicídio entre os Guaraní-Kaiwá: indagando suas causas e avançando a hipótese do recuo impossível The Guaraní-Kaiwá suicide epidemic: investigating its causes and suggesting the impossible return hypothesisAnastácio F. MorgadoO suicídio de seis jovens Guaraní-Kaiwá num período de duas semanas é por si só suficiente para preencher qualquer critério de epidemia. Em uma população de aproximadamente 7.500 indígenas, há informações de que foram registrados 52 suicídios de 1987 até agosto de 1991; a epidemia é mais dramática entre o subgrupo Kaiwá: 14 de seus membros suicidaram-se no ano de 1990, e uns tantos outros suicídios já ocorreram no 1º semestre de 1991. Predomina entre jovens de 12 a 20 anos de idade, atingindo igualmente rapazes e moças. Para explicar uma epidemia desse tipo, propõe-se a hipótese do recuo impossível, onde se verifica o esgotamento de qualquer possibilidade de recuar no espaço, diante da "civilização ocidental", e, simultaneamente, seus valores de dignidade humana são aviltados. Não há mais uma só opção de ir para uma floresta e foram virtualmente capturados pela cidade (a aldeia dos Kaiwá fica no perímetro urbano de Dourados), mas sem chances de qualquer inserção ocupacional - só restando-lhes alguma forma de prostituição. Em tal situação de desvalia extrema, a auto-imolação é a última forma de ainda sobreviver a sua cultura. Houve epidemias de suicídio em indígenas de outros países, mas esses encontravam-se também em limite de recuo e sem chances de inserção na civilização ocidental. No Brasil e no exterior, outras tribos indígenas foram urbanizadas, sem tragédias como a experimentada pelos Kaiwá, porque tiveram alguma inserção socialmente condigna.<br>The suicide of six young Guaraní-Kaiwá Indians within the timespan of two weeks is enough to fulfill any criteria to define an epidemic. In a total population of 7,500 individuals, the available data account for 52 cases of suicide between 1987 and August 1991. The epidemic is more dramatic among the Kaiwá subgroup among which 14 individuals died in 1990 and a number of suicides were reported for the first semester of 1991. For both sexes, most deaths were observed in the age group 12-20 years. The author advances the hypothesis of the impossible return according to which, under extreme pressure exerted by western society, they see no possibility of returning to their traditional way of living. Under circumstances of extreme self-devaluation, suicide becomes the last alternative for the survival of their culture. Suicide epidemics have been reported among Amerindians in other countries suffering from the same kind of pressure. In Brazil and also in other countries, other tribes have been urbanized and yet did not experience the tragedy which the Kaiwá are going through because they had some kind of acceptable insertion in the national society.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000400009
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