Summary: | <p>O presente artigo tem como objetivo analisar a figuração utópica das esferas familiares nos romances <em>Lavoura Arcaica</em>, do brasileiro Raduan Nassar (2001), e <em>A manta do soldado</em>, da autora portuguesa Lidia Jorge (2003). Em ambas a narrativas, os respectivos patriarcas atribuem traços idealísticos ao espaço doméstico, considerando-o como um refúgio protetor contra as supostas distorções éticas e morais do mundo exterior. Assim, essa visão sublimadora da família configura teoricamente um abrigo para o bem-estar familiar e um espaço de preservação da harmonia de seus membros. Diante disso, é possível relacionar esses núcleos familiares a exemplos de representações sociais utópicas, que foram, desde o século XVI, recorrentes na produção literária de diferentes nacionalidades. O viés comparativo acontece tanto pelo isolamento e fechamento do <em>ethos</em> familiar nos dois textos ficcionais quanto pela sua função de contraste com a sociedade exterior figurada na diegese. A rigidez dos conceitos que orientam essas famílias provoca reações de algumas personagens, as quais, a exemplo dos protagonistas nas narrativas distópicas, revoltam-se contra o apagamento de suas identidades e de suas individualidades. Assim, a proposta de análise comparativa deste artigo engloba não apenas as características que marcam com o signo da utopia as esferas familiares nos romances escolhidos, mas também as particularidades dessas obras enquanto sistemas de organização social, cujas tendências homogeneizadoras deflagram a revolta de seus integrantes e, em última instância, a própria desestabilização de suas estruturas.</p> <p>Palavras-chave: Utopia. Família. Lavoura arcaica. A manta do soldado.</p>
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