Summary: | <p>Neste trabalho, analiso a construção do sofrimento de profissionais de saúde, tomando por base as narrativas produzidas em reuniões de trabalho de um grupo interdisciplinar cujo objetivo é oferecer apoio a profissionais que lidam com crianças e adolescentes vítimas de violência. A distinção entre narrativas breves e longas, que aqui denomino episódios e trajetórias de sofrimento, se mostrou bastante significativa para se compreender a natureza das diferentes ações desenvolvidas nas reuniões. Os episódios remetem, ritualmente, ao sofrimento gerado pelo trabalho, ou evidenciam teses e opiniões defendidas nas reuniões. As trajetórias têm suas etapas co-construídas em reuniões de apresentação de caso, nas quais se avalia o ocorrido e se oferecem orientações para futuros procedimentos. As narrativas atuam na manutenção e na coesão do grupo, sendo as reuniões, sobretudo, um espaço ideal para contar/ouvir histórias. Nesse espaço se instala um movimento identitário clássico, aqui caracterizado pela distinção entre um nós – os membros do grupo, que são sensibilizados para e informados sobre a questão da violência contra crianças e adolescentes – e um eles – os não membros, profissionais de saúde que ainda precisam se aproximar e conhecer a questão. Vê-se também como, em um grupo interdisciplinar, os diferentes profissionais coconstroem suas narrativas de sofrimento, inclusive os médicos, que tradicionalmente detêm o poder nas equipes de saúde. Tal fato parece estar associado a uma transformação na identidade tradicional do médico na organização hospitalar contemporânea.</p> Palavras-chave: narrativa, identidade, interação, contexto da saúde, profissionais de saúde.
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