Summary: | RESUMO: O artigo examina a apropriação heideggeriana de Bernardo de Claraval na nota "Zu den Sermones Bernardi in Canticum canticorum (Serm. III)" (HEIDEGGER, 1995, p. 334-337),que faz parte de outras notas e esboços de uma Vorlesung não proferida, intitulada "Os fundamentos filosóficos da mística medieval (1918-1919)" (HEIDEGGER,1995). Ao longo de minha análise, destaco três aspectos com base na fórmula inicial: "Hoje lemos no livro da experiência" -, que é parafraseada por Heidegger da seguinte maneira: "Hoje queremos mover-nos no campo da experiência pessoal de maneira compreensiva. Retorno à esfera da vivência própria e ausculta da revelação da própria consciência". Portanto, primeiramente, enfatizo a fórmula inicial como campo experiencial que o livro faz abrir: ler (legere) não é mais decifrar, mas mover-se a si mesmo, recolher, até mesmo ser afetado. Em segundo lugar, a partir da apropriação da cristologia de Bernardo de Claraval, mostro como Heidegger aponta para uma "experiência fundamental", no sentido de que, mesmo considerando que a experiência religiosa do místico cisterciense esteja centrada na figura de Cristo celebrado na liturgia monástica, a religiosidade cristã descortinada é uma vida fundamentalmente mais intensa e mais rica em vivências e em fenômenos vividos. Por fim, em terceiro lugar, destaco certa "inviolabilidade" da experiência religiosa em Bernardo de Claraval,concernente à autonomia e independência absolutas, de modo que nenhuma autoridade exterior, nem mesmo a eclesiástica, poderá determinar o sentido fundamentado em corpo doutrinal estranho às vivências mesmas. Para iluminar as notas da Vorlesung cancelada, as minhas análises recorrem às outras preleções de Heidegger ministradas na Universidade de Freiburg (1919-1923).
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