Summary: | Resumo O presente artigo explora uma dimensão específica do desenvolvimento recente da sociedade civil no Brasil: o campo das ONGs. A formação desse campo é apresentada como consequência não intencional da aproximação de ativistas católicos com ideologias de esquerda, em meados do século XX. A noção de sociogênese permite articular o plano macroestrutural de formação do campo das ONGs no Brasil ao plano biográfico de um dos seus principais atores, Herbert de Souza, conhecido popularmente como Betinho. Sustento que existe uma relação de forte correspondência entre esses dois planos. A biografia de Betinho sintetiza, em um plano individual, boa parte das transformações que estiveram subjacentes à emergência do campo das ONGs no Brasil: (i) a aproximação e o posterior afastamento entre religião e política, (ii) a diversificação das pautas e agendas de reivindicação e (iii) a reinvenção de laços de emoção com a política fora das arenas convencionais de representação. A trajetória de Betinho individualiza e imprime contornos carnais a transformações estruturais profundas na vida política nacional, tanto no que diz respeito a suas instituições quanto à cultura política. A formação do campo das ONGs foi um resultado não programado desse processo e possui relações umbilicais com a formação do ativismo político de Betinho.
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