Dançando contra o estado: análise descoreográfica das forças em movimento entre os caboclinhos de Goiana/Pernambuco
Se a ideia de coreografia encontra-se relacionada a uma tradição disciplinar marcada por estratégias de poder e dominação do corpo e de seus movimentos (Lepécki, 2010), uma análise descoreográfica pode ser uma boa opção na tentativa de compreender a relação dança e guerra, dimensão importante da exp...
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Universidade Federal da Grande Dourados
2017-09-01
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doaj-b8f9466630e74faf96983d8de9d78d582020-11-25T02:38:30ZporUniversidade Federal da Grande DouradosRevista Ñanduty2317-85902017-09-015614616610.30612/nty.v5i6.68783309Dançando contra o estado: análise descoreográfica das forças em movimento entre os caboclinhos de Goiana/PernambucoMaria Acselrad0(PPGSA/UFRJ)Se a ideia de coreografia encontra-se relacionada a uma tradição disciplinar marcada por estratégias de poder e dominação do corpo e de seus movimentos (Lepécki, 2010), uma análise descoreográfica pode ser uma boa opção na tentativa de compreender a relação dança e guerra, dimensão importante da experiência dos caboclinhos. Agremiação carnavalesca formada por homens, mulheres e crianças, vestidos de índios e munidos de arco e flecha, os caboclinhos saem dançando e tocando pelas ruas de cidades da Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata norte de Pernambuco. Seus dançarinos são índios guerreiros, organizados em cordões, disposição espacial em que duas fileiras paralelas desenvolvem movimentos simétricos. Os líderes desses cordões são os puxantes, que articulam em sua movimentação, a preparação para um embate coreográfico. Suas danças, chamadas manobras, evocam movimentos de guerra, por meio de avanços, recuos, saltos, agachamentos, trançados e rodopios, e passos cujas variações envolvem o cruzamento e o descruzamento de pernas, além do gesto de atirar com o arco e flecha. Se, boa parte de suas apresentações acontece num espaço e tempo institucionalizados pelo poder público, há um dia no ano, em que os grupos saem às ruas de Goiana, para realizar a caçada do bode, cortejo ritual que prepara os caboclinhos para os desafios enfrentados durante o carnaval. Neste dia, o confronto direto entre os grupos é um risco em potencial. Observar a relação entre eles, não se resumindo a um grupo especificamente e nem à descrição do que se move, no plano do visível apenas, já que uma dimensão invisível decorrente da relação com a jurema, ali também dança, afirma a intenção aqui de praticar uma antropologia das forças, mais do que das formas. Evocar o clássico debate sobre guerra enquanto motor da vida social (Clastres, 2004), vem contribuir para o desvelamento de uma dimensão agonística, pouco discutida nos trabalhos sobre danças populares e tradicionais.http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/nanduty/article/view/6878Descoreografia. Manobra. Estado. |
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