A glorificação da morte como modo de vida
Esse artigo discute as bases intelectuais da glorificação do autossacrifício tal como aparece nas técnicas kamikaze e, mais recentemente, nas ondas de atentados suicidas ocorridos no Líbano na década de 1980. Em ambos os casos, o anseio pela destruição está baseado em uma rejeição radical da ideia c...
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doaj-b482058482c34012b9346e41687ee5452021-04-27T00:54:47ZporUniversidade do Estado do Rio de JaneiroInterseções2317-14562016-12-0118210.12957/irei.2016.26573A glorificação da morte como modo de vidaRenan Springer de Freitas0https://orcid.org/0000-0001-6109-6841Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Esse artigo discute as bases intelectuais da glorificação do autossacrifício tal como aparece nas técnicas kamikaze e, mais recentemente, nas ondas de atentados suicidas ocorridos no Líbano na década de 1980. Em ambos os casos, o anseio pela destruição está baseado em uma rejeição radical da ideia caracteristicamente moderna de que todas as vidas humanas se equivalem em matéria de dignidade, independentemente das aspirações e realizações individuais. Essa rejeição, cuja origem remonta ao pensamento filosófico alemão do séc. XIX, ganhou porta-vozes respeitáveis no período entre guerras, os quais buscavam restaurar o elevado padrão de moralidade que, segundo acreditavam, o projeto civilizatório moderno havia aviltado ao valorizar a mediocridade da vida burguesa, isto é, ao conferir dignidade a um modo de vida que se resume à preocupação com os comezinhos afazeres cotidianos, relegando a um plano secundário o compromisso com “ideais mais nobres” e com as “raízes” nacionais e culturais de um “povo”.niilismo alemãocesurismodistopia |
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Esse artigo discute as bases intelectuais da glorificação do autossacrifício tal como aparece nas técnicas kamikaze e, mais recentemente, nas ondas de atentados suicidas ocorridos no Líbano na década de 1980. Em ambos os casos, o anseio pela destruição está baseado em uma rejeição radical da ideia caracteristicamente moderna de que todas as vidas humanas se equivalem em matéria de dignidade, independentemente das aspirações e realizações individuais. Essa rejeição, cuja origem remonta ao pensamento filosófico alemão do séc. XIX, ganhou porta-vozes respeitáveis no período entre guerras, os quais buscavam restaurar o elevado padrão de moralidade que, segundo acreditavam, o projeto civilizatório moderno havia aviltado ao valorizar a mediocridade da vida burguesa, isto é, ao conferir dignidade a um modo de vida que se resume à preocupação com os comezinhos afazeres cotidianos, relegando a um plano secundário o compromisso com “ideais mais nobres” e com as “raízes” nacionais e culturais de um “povo”. |
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