Summary: | Nesse texto analisamos como os processos de autoreconhecimento de comunidades remanescentes de quilombos são influenciados e, ao mesmo tempo, estão influenciando as lutas sociais agrárias. O trabalho de campo foi realizado junto a uma comunidade do sertão do estado de Sergipe, região de forte presença do MST e de outros movimentos sociais agrários. Após diversos anos de lutas pela posse da terra, inclusive com a criação de uma associação de agricultores, o grupo reivindica o estatuto de comunidade remanescente de quilombos no início dos anos 2000 junto à Fundação Palmares, dando início assim a um processo, ainda em curso, de demarcação do território comunal. Para além do que essa experiência tem de semelhante com diversos outros casos no país, temos aqui um excelente exemplo empírico de como as ressignificações identitárias das comunidades de remanescentes quilombolas alimentam-se de memórias sociais marcadas por experiências de organização coletiva para obter a posse da terra. Em termos teóricos, isso significa rediscutir a emergência enquanto atores coletivos das comunidades negras rurais como uma tentativa de conciliação entre demandas por reconhecimento identitário e demandas por redistribuição de recursos econômicos. O que aproxima essa discussão de interessante debate sobre os critérios de justiça nas sociedades atuais por algumas correntes da filosofia política contemporânea, sobretudo no que diz respeito à complementaridade das demandas por reconhecimento com as demandas por redistribuição.
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