Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly
Na época das descobertas ultramarinas, os europeus acumulavam fragmentos das novas realidades que encontravam em suas viagens, nos chamados gabinetes de curiosidades. Os colecionadores se especializaram e, a partir do século XVIII, surgiram os primeiros museus científicos. No final do século XIX, as...
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Format: | Article |
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Published: |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2008-06-01
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Series: | Horizontes Antropológicos |
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doaj-ac72beea8a4543fbba37a18a93fdb2322020-11-24T23:38:11ZengUniversidade Federal do Rio Grande do SulHorizontes Antropológicos0104-71831806-99832008-06-01142927931410.1590/S0104-71832008000100012Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée BranlyIlana GoldsteinNa época das descobertas ultramarinas, os europeus acumulavam fragmentos das novas realidades que encontravam em suas viagens, nos chamados gabinetes de curiosidades. Os colecionadores se especializaram e, a partir do século XVIII, surgiram os primeiros museus científicos. No final do século XIX, as exposições universais expunham a "barbárie" dos povos colonizados. Já as vanguardas do século XX redescobriram a arte "primitiva" enquanto fonte de renovação. Este artigo recupera tais formas de apreensão da cultura material de sociedades tradicionais ao longo do tempo, para chegar à inauguração do Musée Branly, em 2006. A partir desse museu, podem-se repensar algumas questões fundamentais acerca da arte "primitiva", como a dicotomia entre tratar os artefatos como testemunhos etnográficos ou como criações estéticas; as relações de poder envolvidas na aquisição dos objetos; o problema da autenticidade, numa era em que se multiplicam os souvenirs étnicos "neotradicionais".<br>In the epoch of overseas discoveries, Europeans accumulated fragments of the realities they found in cabinets of curiosities. The private collectors specialized in different branches of "natural history" and this led to the emergence of scientific museums in the 18th century. At the end of the 19th century, universal exhibitions displayed "primitive" artifacts side by side with Western technologies, suggesting the "barbarism" of colonized peoples. But, at the beginning of the 20th century, the avant-gardes rediscovered the art nègre, using it as a source of artistic renovation. This article begins by describing these various forms of dealing with the cultural expressions of others, in order to understand the meaning of the recently opened Musée Branly. The French museum, devoted to non-occidental societies, provides an opportunity to reconsider some fundamental issues. Should we exhibit these artifacts as ethnographic testimonies or works of art? Can we expect traditional "authenticity" in a global era? What are the ethical issues involved in the acquisition of these objects? In the last part of the article, the notion of "primitive" art itself is put into question.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832008000100012antropologia da artearte "primitiva"Musée Branlymuseologiaanthropology of artMusée Branlymuseology"primitive" art |
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Na época das descobertas ultramarinas, os europeus acumulavam fragmentos das novas realidades que encontravam em suas viagens, nos chamados gabinetes de curiosidades. Os colecionadores se especializaram e, a partir do século XVIII, surgiram os primeiros museus científicos. No final do século XIX, as exposições universais expunham a "barbárie" dos povos colonizados. Já as vanguardas do século XX redescobriram a arte "primitiva" enquanto fonte de renovação. Este artigo recupera tais formas de apreensão da cultura material de sociedades tradicionais ao longo do tempo, para chegar à inauguração do Musée Branly, em 2006. A partir desse museu, podem-se repensar algumas questões fundamentais acerca da arte "primitiva", como a dicotomia entre tratar os artefatos como testemunhos etnográficos ou como criações estéticas; as relações de poder envolvidas na aquisição dos objetos; o problema da autenticidade, numa era em que se multiplicam os souvenirs étnicos "neotradicionais".<br>In the epoch of overseas discoveries, Europeans accumulated fragments of the realities they found in cabinets of curiosities. The private collectors specialized in different branches of "natural history" and this led to the emergence of scientific museums in the 18th century. At the end of the 19th century, universal exhibitions displayed "primitive" artifacts side by side with Western technologies, suggesting the "barbarism" of colonized peoples. But, at the beginning of the 20th century, the avant-gardes rediscovered the art nègre, using it as a source of artistic renovation. This article begins by describing these various forms of dealing with the cultural expressions of others, in order to understand the meaning of the recently opened Musée Branly. The French museum, devoted to non-occidental societies, provides an opportunity to reconsider some fundamental issues. Should we exhibit these artifacts as ethnographic testimonies or works of art? Can we expect traditional "authenticity" in a global era? What are the ethical issues involved in the acquisition of these objects? In the last part of the article, the notion of "primitive" art itself is put into question. |
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