A INICIATIVA DOS 3 MARES: GEOPOLÍTICA E INFRAESTRUTURAS
A Iniciativa dos Três Mares (I3M) é um ambicioso projeto geopolítico que engloba doze Estados-membros da UE situados entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: de Norte a Sul, uma vasta faixa englobando a Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria, Ro...
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Universidade Autónoma de Lisboa
2019-10-01
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doaj-ab31f611cf6f45afa01ad254a248f12f2021-07-07T14:21:26ZengUniversidade Autónoma de LisboaJanus.net1647-72511647-72512019-10-01102118132https://doi.org/10.26619/1647-7251.10.2.8A INICIATIVA DOS 3 MARES: GEOPOLÍTICA E INFRAESTRUTURASBernardo Calheiros0https://orcid.org/0000-0003-4635-3568Mestre em estratégia e licenciado em relações internacionais. Curso de Defesa Nacional e Curso de Estudos Avançados de Geopolítica. Foi Diretor de Serviços das Relações Bilaterais no Ministério da Defesa Nacional (Portugal). Consultor das empresas Gaporsul e Kyron Consultores. Atualmente, é técnico superior da Direção de Serviços de Relações Internacionais da Direção-Geral de Política de Defesa NacionalA Iniciativa dos Três Mares (I3M) é um ambicioso projeto geopolítico que engloba doze Estados-membros da UE situados entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: de Norte a Sul, uma vasta faixa englobando a Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria, Roménia, Bulgária, Eslovénia e Croácia. Trata-se de uma região com mais de 25% do território da UE e com cerca de 22% da sua população, mas que tem uma representatividade económica muito inferior. A I3M visa promover o desenvolvimento das infraestruturas centro-europeias, com vista a aproximar esta região dos níveis de desenvolvimento económico dos restantes países europeus. A I3M destina-se ao desenvolvimento de grandes projetos de infraestruturas regionais em três grandes áreas: a energia, os transportes (rodoviários e ferroviários) e a área digital (comunicações). A importância geopolítica deste projeto é desde logo evidente pelo facto de muitos destes países serem Estados-encravados, sem acesso ao mar. Estas infraestruturas vão agora dar-lhes acesso a três mares e, dessa forma, contribuir para uma maior independência e espaço de manobra das suas políticas. Esta região, situada no centro do continente europeu, um dos principais mercados energéticos do futuro, é também palco de uma luta comercial muito forte entre a Rússia, com os seus fornecimentos de gás natural, e os EUA, com a sua crescente produção de gás de xisto. Os projetos lançados pela I3M são, portanto, da maior relevância económica e geopolítica, embora tenham ainda que assegurar o respetivo financiamento. Muito embora tenha sido criado o Three Seas Fund (TSF), com uma duração de trinta anos e que pretende assegurar um financiamento na ordem dos 100 biliões de euros (a partir de um investimento inicial dos Estados-membros no valor de 5 biliões de euros), a verdade é que muito dependerá do apoio que lhe for dado pela UE e pelos países interessados nesses projetos, como é o caso dos EUA e da China (ligação à rota da seda). Alguns países europeus têm visto o nascimento desta Iniciativa com alguma desconfiança, como é o caso da Alemanha, que tem vindo a apostar crescentemente no Nordstream II, e da Rússia, que acusam os seus promotores de estar a representar os interesses norte-americanos no continente europeu. Independentemente das controvérsias levantadas, certo é que a I3M parece ser uma forma de cooperação regional que faz todo o sentido e que se integra plenamente no espírito da construção europeia, procurando para os seus povos o mesmo desenvolvimento dos restantes Estados-membros.http://observare.ual.pt/janus.net/images/stories/PDF/vol10_n2/pt/pt_vol10_n2_art08.pdfiniciativa três mareseuropa centralenergiainfraestruturas |
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A Iniciativa dos Três Mares (I3M) é um ambicioso projeto geopolítico que engloba doze Estados-membros da UE situados entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: de Norte a Sul, uma vasta faixa englobando a Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria, Roménia, Bulgária, Eslovénia e Croácia. Trata-se de uma região com mais de 25% do território da UE e com cerca de 22% da sua população, mas que tem uma representatividade económica muito inferior. A I3M visa promover o desenvolvimento das infraestruturas centro-europeias, com vista a aproximar esta região dos níveis de desenvolvimento económico dos restantes países europeus. A I3M destina-se ao desenvolvimento de grandes projetos de infraestruturas regionais em três grandes áreas: a energia, os transportes (rodoviários e ferroviários) e a área digital (comunicações). A importância geopolítica deste projeto é desde logo evidente pelo facto de muitos destes países serem Estados-encravados, sem acesso ao mar. Estas infraestruturas vão agora dar-lhes acesso a três mares e, dessa forma, contribuir para uma maior independência e espaço de manobra das suas políticas. Esta região, situada no centro do continente europeu, um dos principais mercados energéticos do futuro, é também palco de uma luta comercial muito forte entre a Rússia, com os seus fornecimentos de gás natural, e os EUA, com a sua crescente produção de gás de xisto. Os projetos lançados pela I3M são, portanto, da maior relevância económica e geopolítica, embora tenham ainda que assegurar o respetivo financiamento. Muito embora tenha sido criado o Three Seas Fund (TSF), com uma duração de trinta anos e que pretende assegurar um financiamento na ordem dos 100 biliões de euros (a partir de um investimento inicial dos Estados-membros no valor de 5 biliões de euros), a verdade é que muito dependerá do apoio que lhe for dado pela UE e pelos países interessados nesses projetos, como é o caso dos EUA e da China (ligação à rota da seda). Alguns países europeus têm visto o nascimento desta Iniciativa com alguma desconfiança, como é o caso da Alemanha, que tem vindo a apostar crescentemente no Nordstream II, e da Rússia, que acusam os seus promotores de estar a representar os interesses norte-americanos no continente europeu. Independentemente das controvérsias levantadas, certo é que a I3M parece ser uma forma de cooperação regional que faz todo o sentido e que se integra plenamente no espírito da construção europeia, procurando para os seus povos o mesmo desenvolvimento dos restantes Estados-membros. |
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