Summary: | O objetivo do artigo é entender as narrativas nas cartas de alforria, como dinâmicas de produção de sentidos intergeracionais de pessoas em situações de discriminações étnicas. Questionamos os temas nas cartas de alforria que marcam narrativas de discriminação étnica nas ações e atividades atuais. O método de pesquisa foi uma busca documental nos cartórios da cidade por cartas de alforria e inventários de família com declarações de posse de uma pessoa sobre a outra, de 1872 a 1888. Um outro método se constitui na escolha de 3 homens da mesma família no corte do corpus de narrativas de doze homens, de três gerações, da cidade de Santo Antônio de Jesus, Bahia. Foram realizadas quarenta e oito horas de gravações de áudio e vídeo em entrevistas de história de vida e episódica. Na análise de conteúdo temática da narrativa das cartas de alforria foram encontradas reverberações dos mesmos temas de discriminação, racismo e preconceito étnico nas narrativas dos participantes. Foi escolhida a narrativa de P32 por apresentar vários significados que discriminam as populações negras no interior da comunidade do Quilombo Alto do Morro, como o “trabalho doméstico”; “a minha cor assim”. O foco da narrativa enfatiza o impacto da educação, como prática cultural em detrimento aos processos discriminatórios aos “de minha cor assim”. Conclui-se que a quantidade de leis contra o racismo sinaliza questões intergeracionais importantes, em como a reverberações dos significados, a dinâmica de produção de sentidos intergeracional de negros alforriados paralisa algumas pessoas, seus ancestrais e descendentes. Ao mesmo tempo constituíram-se significados de negações, de esquecimentos dos episódios de pessoas de uma mesma família do tratamento como inferior, com todos os processos cognitivos possíveis.
Palavras-Chave: intergeracionalidade, relaçõesvétnicas, produção de sentidos, populações negras.
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