Os olhos de Saddam: imagens do inimigo
Na representação jornalística da captura de Saddam Hussein, as fotografias são utilizadas como “atos de guerra” na representação dos inimigos, e enfatizadas pelos circuitos midiáticos. Saddam foi capturado em um refúgio escavado debaixo da terra na zona rural: as suas condições físicas eram...
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Pontíficia Universidade Católica de São Paulo
2010-07-01
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Series: | Galáxia |
Online Access: | http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/3303 |
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doaj-a36eaad9a1714154b537c26b188931b62020-11-24T23:32:00ZengPontíficia Universidade Católica de São PauloGaláxia1519-311X1982-25532010-07-011019Os olhos de Saddam: imagens do inimigoIsabella PezziniNa representação jornalística da captura de Saddam Hussein, as fotografias são utilizadas como “atos de guerra” na representação dos inimigos, e enfatizadas pelos circuitos midiáticos. Saddam foi capturado em um refúgio escavado debaixo da terra na zona rural: as suas condições físicas eram dignas de piedade, e impiedosamente foram imortalizadas pelos fotógrafos embedded na captura. O aspecto de seu corpo transcurado, de seu rosto inchado, de seus cabelos e de sua barba desalinhados eram o contrário de sua imagem “em majestade” entronizada em mil variantes por todo o Iraque até pouco tempo atrás. O por em cena a estética do corpo sobre a qual Saddam – como muitos políticos não necessariamente tiranos – fundou a representação de seu próprio poder, foi destruída e a interpretação de degradação ultrapassou com grande facilidade a sua imagem de honra. Nas intenções dos inimigos, desgosto e vergonha colaboravam perfeitamente para a sinalização da vitória, enquanto, entre os espectadores da parte adversária só suscitavam mais raiva, indignação, ódio e desejo de vingança. Essas fotos de Saddam, assim como, em seguida, aquelas de seu enforcamento após a sua condenação, de tratamento grotesco, representam somente um dos episódios mais significativos de uma longa “guerra de imagens” que contrapõe ainda povos e culturas, sensibilidade religiosa e política, e torna o terreno da mídia, um espaço ulterior de desencontros, ao invés de construções possíveis de comunidade. O texto se fecha entre outros sobre o estatuto ambíguo que os jornais atribuem às imagens fotográficas, de um lado utilizadas como prova incontestável do discurso verbal e, de outro, continuamente pondo em causa esse último, que as interroga, as interpreta e as coloca em dúvida, construindo um discurso sincrético a ser lido sob diversas possibilidades isotópicas. http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/3303 |
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Na representação jornalística da captura de Saddam Hussein, as fotografias são utilizadas como “atos de guerra” na representação dos inimigos, e enfatizadas pelos circuitos midiáticos. Saddam foi capturado em um refúgio escavado debaixo da terra na zona rural: as suas condições físicas eram dignas de piedade, e impiedosamente foram imortalizadas pelos fotógrafos embedded na captura. O aspecto de seu corpo transcurado, de seu rosto inchado, de seus cabelos e de sua barba desalinhados eram o contrário de sua imagem “em majestade” entronizada em mil variantes por todo o Iraque até pouco tempo atrás. O por em cena a estética do corpo sobre a qual Saddam – como muitos políticos não necessariamente tiranos – fundou a representação de seu próprio poder, foi destruída e a interpretação de degradação ultrapassou com grande facilidade a sua imagem de honra. Nas intenções dos inimigos, desgosto e vergonha colaboravam perfeitamente para a sinalização da vitória, enquanto, entre os espectadores da parte adversária só suscitavam mais raiva, indignação, ódio e desejo de vingança. Essas fotos de Saddam, assim como, em seguida, aquelas de seu enforcamento após a sua condenação, de tratamento grotesco, representam somente um dos episódios mais significativos de uma longa “guerra de imagens” que contrapõe ainda povos e culturas, sensibilidade religiosa e política, e torna o terreno da mídia, um espaço ulterior de desencontros, ao invés de construções possíveis de comunidade. O texto se fecha entre outros sobre o estatuto ambíguo que os jornais atribuem às imagens fotográficas, de um lado utilizadas como prova incontestável do discurso verbal e, de outro, continuamente pondo em causa esse último, que as interroga, as interpreta e as coloca em dúvida, construindo um discurso sincrético a ser lido sob diversas possibilidades isotópicas. |
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