Música e voz para além do som
O presente artigo busca, a partir daquilo que o compositor Luciano Berio chamou de "musicalidade presente nas livres partículas" e do estudo da trajetória do conceito de escuta, e consequentemente de música, ao longo do século XX, evidenciar um tipo de musicalidade que estaria presente em...
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Universidade de São Paulo (USP)
2015-04-01
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doaj-a1094d87ba7f47b2991fff8d09ab3a0e2020-11-25T02:31:22ZporUniversidade de São Paulo (USP)Literatura e Sociedade1413-29822237-11842015-04-01191910.11606/issn.2237-1184.v0i19p149-167Música e voz para além do somAnnita Costa Malufe0Silvio Ferraz1Pontifícia Universidade Católica de São PauloUniversidade Estadual de Campinas, O presente artigo busca, a partir daquilo que o compositor Luciano Berio chamou de "musicalidade presente nas livres partículas" e do estudo da trajetória do conceito de escuta, e consequentemente de música, ao longo do século XX, evidenciar um tipo de musicalidade que estaria presente em certos modos de manifestação da literatura. Para tanto, toma por ponto de partida as propostas da música concreta e do serialismo integral, experiências radicais da música no séc. XX, como base para a leitura das poéticas de Samuel Beckett, Christophe Tarkos e Georges Aperghis. Os três autores são tomados aqui como momentos distintos, que perfazem as décadas de 1970, 80 e 90, da produção poética em sua relação direta com a arte da performance. Em cada um desses casos, tem-se diferentes modulações do trabalho com a voz, ainda que em todos possamos arriscar a presença de um traço comum: a leitura do texto que se abre à sua materialidade acústica e temporal. Tal aspecto é evidenciado pela ciclicidade com que suas escritas se valem, realçando a ideia de uma musicalidade que não se reduz à sonoridade ou ao ritmo das palavras, mas à palavra em sua completude, inserida em um campo aberto de significados, sonoridades, métrica, imagens etc. Propomos assim observar a potência vocal que atravessa a poesia, imaginando um movimento de mão dupla, de mútua interferência entre as invenções da música e da poesia no séc. XX, aquela capacidade de dizer algo - seja com palavras ou outros sons - não enunciável pelo discurso, mas pelo embate livre entre palavras, fonemas, frases. http://www.revistas.usp.br/ls/article/view/97229PerformancemusicalidadeSamuel BeckettLuciano Beriovozpoética. |
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O presente artigo busca, a partir daquilo que o compositor Luciano Berio chamou de "musicalidade presente nas livres partículas" e do estudo da trajetória do conceito de escuta, e consequentemente de música, ao longo do século XX, evidenciar um tipo de musicalidade que estaria presente em certos modos de manifestação da literatura. Para tanto, toma por ponto de partida as propostas da música concreta e do serialismo integral, experiências radicais da música no séc. XX, como base para a leitura das poéticas de Samuel Beckett, Christophe Tarkos e Georges Aperghis. Os três autores são tomados aqui como momentos distintos, que perfazem as décadas de 1970, 80 e 90, da produção poética em sua relação direta com a arte da performance. Em cada um desses casos, tem-se diferentes modulações do trabalho com a voz, ainda que em todos possamos arriscar a presença de um traço comum: a leitura do texto que se abre à sua materialidade acústica e temporal. Tal aspecto é evidenciado pela ciclicidade com que suas escritas se valem, realçando a ideia de uma musicalidade que não se reduz à sonoridade ou ao ritmo das palavras, mas à palavra em sua completude, inserida em um campo aberto de significados, sonoridades, métrica, imagens etc. Propomos assim observar a potência vocal que atravessa a poesia, imaginando um movimento de mão dupla, de mútua interferência entre as invenções da música e da poesia no séc. XX, aquela capacidade de dizer algo - seja com palavras ou outros sons - não enunciável pelo discurso, mas pelo embate livre entre palavras, fonemas, frases.
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