Summary: | RESUMO Este artigo tem por objetivo explorar a polissemia das contas de vidro entre as sociedades centro-ocidentais africanas descritas pelo expedicionário português Henrique Augusto Dias de Carvalho em sua incursão pela região da Lunda (África Centro-Ocidental) no final do século XIX. Por meio das narrativas sobre as populações africanas e de aspectos de sua cultura material registrados pelo viajante europeu, buscamos discutir os múltiplos usos sociais, culturais, políticos e econômicos que as chamadas contas vítreas alcançaram entre os grupos locais, relativizando, por sua vez, determinadas interpretações que concebiam tais artigos como meras “bugigangas” solicitadas pelos povos centro-africanos. Reconhecidas como um dos itens indispensáveis por figuras como expedicionários, mercadores e missionários que almejavam percorrer diferentes territórios africanos, as contas de vidro possibilitam compreender as distintas formas de inserção desses objetos no cotidiano das populações centro-ocidentais africanas. Partindo desta chave analítica, que privilegia o entendimento dos fenômenos de apropriação e ressignificação de artigos europeus, especificamente as contas, no universo social das populações locais, o presente artigo visa ressaltar as potencialidades dos estudos da cultura material para uma compreensão mais aprofundada das interações estabelecidas entre europeus e africanos no final do século XIX.
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