Summary: | OBJETIVO: analisar o conteúdo vaginal utilizando o exame citológico a fresco na primeira consulta pré-natal em mulheres com ou sem queixas genitais e correlacionar os resultados com os encontrados na citologia corada pela técnica de Papanicolaou. A microscopia direta durante a gravidez deve ser valorizada e reconhecida como método propedêutico capaz de diagnosticar, de forma imediata, 90% dos casos de vaginose bacteriana, candidose e tricomonose. MÉTODOS: estudo prospectivo em 216 gestantes, selecionadas em ambulatório de pré-natal no período de 30 de outubro de 2001 a 12 de novembro de 2002. Foram colhidas duas amostras do conteúdo existente no fundo de saco vaginal posterior e depositadas em lâminas de vidro para microscopia. Sobre a primeira e a segunda amostra eram colocadas uma gota de NaCl a 0,9% e uma de KOH a 10%, respectivamente. Adicionalmente, em todas as grávidas determinou-se o pH vaginal e realizaram-se os testes de produção das aminas com odores de pescado. O material era examinado ao microscópio em aumentos de 100 vezes, 400 vezes e excepcionalmente 1000 vezes. Foram realizados esfregaços cervicovaginais para citologia corada pelo método de Papanicolaou. A correlação entre os resultados dos métodos citológicos empregados foi realizada pelo cálculo do coeficiente kappa, que avalia a concordância para variáveis qualitativas. RESULTADOS: o encontro nos esfregaços a fresco de flora bacteriana normal foi de 51,8, representando o aspecto citológico mais observado e sem correspondência com os 3,7% apurados na microscopia corada. No exame citológico direto foram observados 30,9% de vaginose bacteriana e 7,9% de candidose. Todavia, no Papanicolaou não foi encontrada tal equivalência, sendo as porcentagens de 0,7 e 24,3%, respectivamente. A ausência de correlação no diagnóstico de colpite bacteriana inespecífica na microscopia direta (17,5%) e corada (51,3%) talvez deva-se ao subdiagnóstico de vaginose neste último método propedêutico. Os diagnósticos de tricomoníase observados em ambos os métodos citológicos (3,7 e 2,7%) traduzem a baixa prevalência destes parasitas na gestação. O cálculo do índice kappa para avaliação da concordância entre os dois procedimentos citológicos nos diversos achados microbiológicos demonstrou baixa correlação nos diagnósticos da vaginose bacteriana e colpites bacterianas inespecíficas, bem como na identificação da flora vaginal normal. CONCLUSÕES: embora a citologia corada apresente melhor acurácia no diagnóstico de fungos não formadores de micélios, a citologia direta a fresco demonstrou ser melhor avaliador dos elementos não epiteliais dos esfregaços vaginais. Entretanto, a microscopia corada pela técnica de Papanicolaou, por permitir melhor apreciação das células epiteliais cervicovaginais, representa o mais importante instrumento revelador das agressões e reações nucleocitoplasmáticas.<br>PURPOSE: to analyze vaginal contents using the fresh wet mount of a cytological exam in the first prenatal visit of women with or without genital complaints and correlate the conclusion with the results from the Pap smears. Microscopy during pregnancy should be valued and recognized as a method capable of providing immediate diagnosis in 90% of bacterial vaginosis, candidiasis and trichomoniasis cases. METHODS: a prospective study was performed in 216 pregnant women selected from the prenatal department of a public hospital, between October 30, 2001 and November 12, 2002. Two samples were collected from the posterior vaginal vault and deposited onto two separate microscope slides. To one slide, a droplet of 0.9% NaCl was applied and to the other, a droplet of 10% KOH. Both slides were covered with a coverslip for immediate microscopic evaluation. Tests were perfomed in one drop of the material to examine pH and whiff. The microscopic examination of the material was carried out at a 100X, 400X and exceptionally 1000X magnification. Pap smears were performed in all pregnant patients. The correlation between the results of the utilized cytological methods was perfomed by the kappa coefficient, which evaluates the concordance for quality variables. RESULTS: the findings of the normal vaginal microflora in the fresh wet mount were 7.8%, representing the most observed cytological aspect, and without correspondence with the 3.70% verified by the Pap smears. In the fresh wet mount, bacterial vaginosis was found in 30.9% and candidiasis in 7.9% of the cases. However, in the Pap smears no similar event occurred, the diagnosis being 0.7 and 24.3%, respectively. The absence of a diagnosis correlation of nonspecific bacterial vaginitis by direct microscopy (17.5%) and Pap smears (51.3%) is probably due to the undervalued diagnosis of bacterial vaginosis by the latter method. The diagnosis of trichomonas vaginalis observed in both cytological methods (3.70 and 2.78%) represents a low prevalence of these parasites in the course of pregnancy. The kappa coefficient between the two cytological procedures in the several microbiological findings showed low correlation of the diagnosis of bacterial vaginosis with nonspecific vaginitis, as well as the normal vaginal flora. CONCLUSIONS: although the Pap smear presents the best accuracy of the diagnosis of yeast without pseudomycelium, the fresh wet mount has shown to be a better appraiser of nonepithelial cells the vaginal smears. Because Pap smears allow a better evaluation of vaginal epithelial cells, they represent the most important tool to show the aggressions and reactions of the nucleus and cytoplasm.
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