O colapso de Turim: patografias de Nietzsche e racionalidades médicas
Resumo Aos 44 anos, após sofrer um colapso em Turim, o filósofo Friedrich Nietzsche recebeu o diagnóstico médico de neurossífilis. Devido à ausência de autópsia em seu corpo, tal diagnóstico médico vem sendo questionado historicamente. Realizou-se a revisão da literatura disponível sobre o diagnósti...
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Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
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doaj-9843fda5ea45459f82d43c6780beb0ad2020-11-24T21:06:00ZengAssociação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde ColetivaCiência & Saúde Coletiva1678-456123103421343110.1590/1413-812320182310.25602016S1413-81232018001003421O colapso de Turim: patografias de Nietzsche e racionalidades médicasRogério Paes HenriquesResumo Aos 44 anos, após sofrer um colapso em Turim, o filósofo Friedrich Nietzsche recebeu o diagnóstico médico de neurossífilis. Devido à ausência de autópsia em seu corpo, tal diagnóstico médico vem sendo questionado historicamente. Realizou-se a revisão da literatura disponível sobre o diagnóstico médico de Nietzsche. Destacam-se três gêneros patográficos que emergiram sucessivamente como explicações para o colapso de Turim: (1) narrativas sobre a sífilis (“demoníaco-patológicas”); (2) narrativas sobre as psicoses funcionais (“heroico-proféticas”); (3) narrativas sobre outras doenças orgânicas, distintas da sífilis (“científico-realistas”). Estas últimas – que correspondem ao nosso objeto de estudo propriamente dito neste trabalho – empreendem diagnósticos retrospectivos, buscando extrair a “verdade” subjacente à doença e elucidar o “caso Nietzsche”. Questionamos tal ímpeto detetivesco, exponenciado atualmente pela “medicina baseada em evidência”, e denunciamos seu anacronismo. A sífilis tornou-se um fato científico somente após a morte de Nietzsche. Conclui-se que o diagnóstico por ele recebido mostra-se consistente com a racionalidade médica oitocentista e com o estatuto da sífilis como um fato cultural naquela época.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232018001003421&lng=en&tlng=enColapso de TurimNietzschePatografias |
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Resumo Aos 44 anos, após sofrer um colapso em Turim, o filósofo Friedrich Nietzsche recebeu o diagnóstico médico de neurossífilis. Devido à ausência de autópsia em seu corpo, tal diagnóstico médico vem sendo questionado historicamente. Realizou-se a revisão da literatura disponível sobre o diagnóstico médico de Nietzsche. Destacam-se três gêneros patográficos que emergiram sucessivamente como explicações para o colapso de Turim: (1) narrativas sobre a sífilis (“demoníaco-patológicas”); (2) narrativas sobre as psicoses funcionais (“heroico-proféticas”); (3) narrativas sobre outras doenças orgânicas, distintas da sífilis (“científico-realistas”). Estas últimas – que correspondem ao nosso objeto de estudo propriamente dito neste trabalho – empreendem diagnósticos retrospectivos, buscando extrair a “verdade” subjacente à doença e elucidar o “caso Nietzsche”. Questionamos tal ímpeto detetivesco, exponenciado atualmente pela “medicina baseada em evidência”, e denunciamos seu anacronismo. A sífilis tornou-se um fato científico somente após a morte de Nietzsche. Conclui-se que o diagnóstico por ele recebido mostra-se consistente com a racionalidade médica oitocentista e com o estatuto da sífilis como um fato cultural naquela época. |
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