Summary: | Resumo: A elaboração deste documento pelo grupo de trabalho da European Respiratory Society tem como objectivo apresentar as recomendações sobre o uso clÃnico dos testes de exercÃcio em doentes com patologia cardiorrespiratória, dando particular ênfase à avaliação funcional, à avaliação do prognóstico e à avaliação das intervenções terapêuticas.A intolerância ao esforço fÃsico é um dos sintomas mais frequentes, condicionando a perda de qualidade de vida do doente com patologia cardiorrespiratória crónica. Pode definir-se âintolerância ao exercÃcioâ numa perspectiva clÃnica à incapacidade que o doente apresenta para realizar tarefas que os indivÃduos saudáveis considerariam toleráveis.A intolerância ao exercÃcio, considerada em termos do pico de consumo de oxigénio atingido no esforço máximo (VâO2pico) não pode ser prevista por parâmetros avaliados em repouso, como o volume expiratório máximo no primeiro segundo (FEV 1), a transferência alvéolo-capilar do monóxido de carbono (DLCO), a fracção de ejecção do ventrÃculo esquerdo ou o Ãndice de massa corporal (IMC). A avaliação em exercÃcio impõe alguns desafios técnicos: a aplicação de protocolos especÃficos de incremento de carga de forma precisa e reprodutÃvel, com o recurso habitual a ergómetros, tais como a bicicleta ergométrica e o tapete rolante.A prova de exercÃcio cardiorrespiratória (CPET) é considerada o gold standard na avaliação das causas de intolerância ao exercÃcio em doentes com doença cardÃaca e pulmonar e é baseado no princÃpio de que a falência do sistema ocorre tipicamente quando o sistema (seja ele músculo-energético, cardiovascular ou pulmonar) se encontra sob stress. A CPET compreende a imposição de um exercÃcio com cargas crescentes (ou seja, incremental) limitado por sintomas, enquanto se monitorizam as variáveis cardiopulmonares (exemplo: consumo de oxigénio (VâO2), produção de dióxido de carbono (VâCO2), ventilação minuto (VâE), frequência cardÃaca (fC)), a percepção de sintomas (exemplo: a dispneia e o desconforto nos membros inferiores) e, quando necessárias, as avaliações da dessaturação arterial do oxigénio relacionada com o esforço, da hiperinsuflação dinâmica e da força muscular dos membros. Os sistemas são forçados até ao seu limite tolerável, de forma controlada, o que permite detectar respostas que identificam padrões de alteração e que podem ser relacionadas com padrões de referência previamente estudados e publicados pelas sociedades respiratórias europeia e americanas 1â3.Neste documento, é descrito o papel da CPET como auxiliar no diagnóstico e na avaliação funcional e prognóstica. A CPET pode:â Fornecer uma medição objectiva da capacidade para o exercÃcio;â Identificar os mecanismos que limitam a tolerância ao exercÃcio;â Estabelecer Ãndices de prognóstico;â Monitorizar a progressão da doença e a resposta à s intervenções terapêuticas.â Auxiliar no diagnóstico, em situações de broncoconstrição induzida pelo exercÃcio e de dessaturação arterial do oxigénio.Na identificação das causas de intolerância ao exercÃcio, a CPET pode detectar:â Alterações na entrega de oxigénio (desde a sua entrada nas vias aéreas, passando pelo sistema de transporte cardiocirculatório, até à entrega à s mitocôndrias das fibras musculares);â Limitação ventilatória no exercÃcio;â Alteração do controlo ventilatório;â Alteração das trocas gasosas pulmonares;â Percepção excessiva de sintomas (exemplos: dispneia, precordialgia, fadiga muscular periférica);â Disfunção metabólica muscular;â Descondicionamento;â Fraco esforço dispendido.Com um bom esforço realizado, se o valor do pico do consumo de oxigénio atingido foi normal e o motivo para parar a prova foi dispneia ou fadiga muscular, então pode considerar-se que o indivÃduo estudado tem uma normal tolerância ao exercÃcio. Este cenário irá excluir doença pulmonar (DPOC, doença intersticial pulmonar, doença vascular pulmonar) ou cardÃaca (insuficiência cardÃaca congestiva) significativas como causa de intolerância.A prova de exercÃcio cardiopulmonar pode auxiliar no diagnóstico diferencial entre limitação no esforço de origem pulmonar ou cardiocirculatória. Pode fornecer um perfil de respostas que caracterizam determinadas doenças; exemplo: na DPOC são frequentes a limitação ventilatória, a hiperinsuflação dinâmica, a dessaturação arterial com o exercÃcio, a dispneia, a disfunção dos músculos periféricos; na doença intersticial pulmonar são frequentes a dispneia, a restrição ventilatória mecânica e as alterações graves das trocas gasosas. Outros padrões de respostas podem ser encontrados na broncoconstrição induzida pelo exercÃcio, na doença vascular pulmonar, na insuficiência cardÃaca e em cardiopatias congénitas. A avaliação cardiorrespiratória no exercÃcio fornece ainda indicadores prognósticos em várias doenças. Descrevem-se neste documento vários trabalhos que estudaram os parâmetros indicadores de prognóstico em doenças como a DPOC, a doença intersticial pulmonar, a hipertensão pulmonar primária, a fibrose quÃstica e a insuficiência cardÃaca.Este documento demonstra ainda a utilidade dos testes de exercÃcio na definição das respostas à s intervenções terapêuticas, em avaliações seriadas.O grupo de trabalho envolvido neste documento considerou importante apresentar as indicações baseadas na evidência para a realização dos testes de exercÃcio na prática clÃnica. A evidência actual é clara quanto à utilidade da prova de exercÃcio cardiopulmonar, das provas de marcha e das provas de carga constante na avaliação do grau de intolerância ao exercÃcio, do prognóstico e dos efeitos das intervenções terapêuticas em doentes adultos com doença pulmonar crónica (DPOC, doença intersticial pulmonar, hipertensão pulmonar primária), em crianças e adultos com fibrose quÃstica, em crianças e adultos com broncospasmo induzido pelo exercÃcio, em adultos com insuficiência cardÃaca congestiva e em crianças e adolescentes com cardiopatias congénitas.Na elaboração deste documento, os autores pretenderam fornecer as respostas à s perguntas que se colocam com frequência na prática clÃnica:â Quando se deve pedir uma avaliação da intolerância ao esforço?â Qual o teste mais adequado?â Quais as variáveis a seleccionar na avaliação do prognóstico de determinada doença ou na avaliação do efeito de uma intervenção terapêutica particular?O documento contém ainda um suplemento que pode ser obtido on-line e que descreve as bases fisiológicas subjacentes aos parâmetros avaliados nas provas de exercÃcio cardiopulmonar.
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