Summary: | Resumo Introdução Deficiências na capacidade de diagnosticar e tratar emergências obstétricas contribuem para um tratamento hospitalar de menor qualidade e mortes maternas evitáveis no Brasil. O treinamento por simulação de equipes para atender emergências obstétricas pode reduzir desfechos maternos adversos. Porém, esse tipo de treinamento não é disponível em larga escala, especialmente em locais com poucos recursos. Apresentamos a experiência de uma parceria privado-pública que ofereceu um treinamento por simulação de dois dias sobre emergências obstétricas para centenas de profissionais de saúde brasileiros que trabalhavam no setor público. Também apresentamos a melhora dos conhecimentos dos participantes no curto prazo (nível 2 de Kirkpatrick) e sua satisfação (nível 1 de Kirkpatrick). Métodos Este foi um estudo não experimental do tipo antes-e-depois. O treinamento gratuito, com duração total de 16 horas, foi oferecido ao longo de 14 meses no centro de simulação de um grande hospital privado, usando cenários multidisciplinares e modelos. O treinamento consistia de quatro módulos (4 horas cada) sobre pré-eclampsia/eclampsia, hemorragia, sepse e reanimação. Ao final de cada módulo, os participantes preencheram um questionário anônimo para avaliar sua satisfação. A aprendizagem foi avaliada comparando as notas dos participantes nos testes realizados antes e depois de cada módulo. Usamos os testes de Wilcoxon, Kruskal-Wallis e Friedman para as análises estatísticas. Valores de P < 0,05 foram considerados significativos. Resultados 340 profissionais de saúde (117 médicos, 179 enfermeiras e 44 técnicas de enfermagem) que trabalhavam em 33 hospitais públicos brasileiros foram treinados. Houve um aumento significativo nos escores dos testes realizados após cada módulo. O aumento médio dos escores foi de 55% no módulo de hipertensão e de 65–69% nos módulos de hemorragia, sepse e reanimação (p = 0,019). A aprendizagem das enfermeiras e técnicas de enfermagem foi semelhante nos módulos de hipertensão, hemorragia e sepse, e significativamente maior do que a dos médicos (p < 0,05). A satisfação média dos participantes, numa escala de 0 a 10, variou de 9,6 (módulo de hipertensão) até 9,8 (módulo de reanimação). Conclusões Essa exitosa experiência de uma parceria privado-pública para oferecer treinamento em emergências obstétricas usando simulação exigiu organização estratégica e um firme empenho de ambos os parceiros. Esse modelo promissor de parceria privado-pública pode ser repetido em locais semelhantes. O treinamento teve notas de satisfação elevadas e aumentou de forma significativa o conhecimento de profissionais de saúde do setor público sobre como conduzir os casos responsáveis pela maioria das mortes maternas.
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